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RUY CASTRO
Para fins imorais
RIO DE JANEIRO - De seu camarote no Sambódromo, o presidente
Lula atirou, imperialmente e às
mancheias, pacotes de camisinha
para o público nas frisas abaixo dele. Se sua insólita atitude tinha um
fim educativo -conscientizar o povão para a necessidade de uso do
preservativo-, frustrou-se.
As frisas são feudo dos turistas, e
supõe-se que a categoria já esteja
bem informada sobre as características do produto, além de poder
comprá-lo às grosas, se quiser. Para
atingir a parcela a que se destinava
seu gesto, Lula deveria ter pendurado um tabuleiro de camisinhas ao
pescoço e ido distribuí-las um pouco mais adiante, nas arquibas da
praça da Apoteose, onde os ingressos são populares, quase de graça,
porque ali é o fim do desfile e já não
há o que ver.
Depois dessa, tentei visualizar o
presidente Obama, preocupado
com a crise que fecha bancos e fábricas nos EUA, comparecendo à final da World Series (nome pomposo que eles dão ao campeonato local
de beisebol) e, do palanque, atirando cheeseburgers para a massa,
simbolizando sua campanha para o
povo comprar produtos americanos. E quer saber? Obama é bem capaz de ter essa ideia.
Tentei visualizar também o presidente francês Nicolas Sarkozy
-igualmente preocupado com as
quebras de empresas e demissões
na União Europeia- subindo ao
Arco do Triunfo e atirando Lexotan
para o povo, a fim de tranquilizá-lo
e baixar seus níveis de ansiedade.
Parece ridículo, mas, como metáfora, não é impossível.
Foi o que Lula deve ter pensado:
atirar camisinhas para a massa pode ser ridículo, mas tem seus méritos como metáfora. Nos seus futuros discursos, ele poderá dizer que
os pobres também têm direito ao
sexo para fins deliciosamente imorais e que ele, Lula, está ali para garantir que eles sifo sossegados.
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