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MARINA SILVA
Equilibrando os pratos
O TSUNAMI econômico-financeiro que varre o mundo
será um dia lembrado pelos
gigantescos socorros estatais a empresas privadas. Essas medidas podem se justificar, mas é preocupante observar que talvez se limitem à
postura do equilibrista a girar suas
varetas para que os pratos não se
espatifem no chão. Não é fácil escolher os pratos a serem mantidos no
ar. Diante da diversidade de interesses, os objetivos devem ser claros e os critérios, transparentes.
À corrida para salvar os pratos da
economia tradicional falta a noção
de complexidade da situação, inclusive da ameaça ambiental expressa no aquecimento global. A
opção de resolver a crise com mais
destruição ambiental, afrouxando
leis e controles, é falsa e perigosa. É
hora de descarbonizar a economia
e exigir contrapartidas, tais como
processos produtivos mais ecoeficientes, com fortalecimento da governança ambiental em todos os
níveis. A solução para o sufoco deve
ser, necessariamente, inovadora e
sustentável.
Ao mesmo tempo, segmentos de
vanguarda comprometidos com a
sustentabilidade, mas ainda de frágil inserção no mercado, estão sendo tragados pela crise sem que lhes
seja dada pelo menos pequena parcela do apoio prestado à chamada
grande economia.
No Brasil, isso acontece, por
exemplo, no setor de madeira certificada. A pioneira Associação de
Produtores Florestais Certificados
na Amazônia, criada em 2003, reúne empresas e comunidades tradicionais que, dentro dos padrões do
FSC (Forest Stewardship Council),
manejam 90% das florestas naturais certificadas e respondem por
2% da madeira produzida na Amazônia, empregando 15 mil pessoas
em toda a cadeia produtiva. A área
de floresta certificada cresceu de
300 mil hectares, em 2003, para
cerca de 3 milhões em 2007.
Contudo, apesar de sua importância estratégica para o futuro da
Amazônia, esse segmento corre sério risco. Com a recente retração
de mais de 80% nas exportações,
sua consolidação e sua expansão
estão ameaçadas, bem como os
empregos gerados. Medidas podem e devem ser tomadas para ampliar o mercado interno para seus
produtos, usando a capacidade de
compra do governo ou aquela gerada por empréstimos de bancos oficiais, como faz a Caixa Econômica
Federal. Também seria justo criar
linha de crédito do BNDES para garantir capital de giro nas operações
de exportação.
O que não dá é para deixar a crise
econômica arrastar o futuro. Se
emergirmos dela nas mãos do mesmo e velho sistema predatório e
autocentrado, não teremos aprendido nada e estaremos, aí sim, no
rumo de uma nova crise de dimensões apocalípticas.
contatomarinasilva uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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