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São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2003

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CEDO PARA COMEMORAR

Lideranças do governo Luiz Inácio Lula da Silva festejam a melhora de indicadores financeiros relacionados ao Brasil. Não se cansam de atribuir o fato aos sinais de austeridade obsessivamente transmitidos pelo governismo.
Comemora-se a obtenção de um superávit primário (receitas do setor público descontadas as despesas, sem contar os juros) no primeiro bimestre mais que suficiente para cumprir a meta acertada com o FMI para os primeiros três meses do ano. E há quem sustente, no Executivo, que a receita funcionou "tão bem" que o melhor que Lula e seus assessores teriam a fazer seria dobrar a aposta: manter a política monetária restrita e aumentar ainda mais o superávit fiscal primário.
Cumpre lembrar que, se houve um razoável desanuviamento de curto prazo no terreno financeiro, as expectativas sobre o desempenho das forças produtivas continuam a deteriorar-se. Muitos analistas, secundados por agências oficiais como o Banco Central, estão revendo para baixo as previsões de crescimento econômico para este ano.
Com exceção de alguns setores que não têm capacidade de liderar um crescimento expressivo da renda no Brasil, a situação das empresas instaladas no país é preocupante. Desde o ano passado são forçadas a buscar o desendividamento rápido. Sacrificam-se o nível de emprego e os investimentos, o que acaba por repercutir negativamente no consumo. Com menos receita, a situação das empresas tende a agravar-se ainda mais.
Esse tipo de espiral recessiva costuma ser combatido nos países desenvolvidos -basta notar o que ocorre, agora, nos EUA, na Europa e no Japão- com diminuição dos juros e aumento do gasto público. Áulicos do governismo petista hoje festejam a sua própria aprovação, "cum laude", no teste da ortodoxia econômica. Mas a retração do gasto público, aliada aos juros asfixiantes, num momento como este não fornece nenhum motivo para regozijo a não ser a quem continua a auferir grandes lucros emprestando dinheiro para o governo, cuja dívida, apesar do superávit recorde, voltou a crescer.


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