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METAS EM DEBATE
Embora as autoridades
econômicas declarem que nada
irá mudar no regime de metas de inflação, o debate em torno do tema
permanece. Além da ata da reunião
de março do Comitê de Política Monetária, que deixou entrever a possibilidade de diretrizes mais flexíveis, o
senador Aloizio Mercadante (PT-SP)
já foi claro ao sugerir objetivos menos draconianos para 2005.
O Relatório de Inflação do Banco
Central, recentemente divulgado,
traz projeções que demonstram como a tentativa de cumprir a meta de
5,5% estabelecida para este ano cria
obstáculos para a redução dos juros
-e, por conseguinte, para a criação
de um ambiente mais propício ao investimento produtivo e ao consumo.
Segundo simulações que constam
do documento, num cenário em que
os juros caíssem no ritmo esperado
pelo mercado até o final do ano, a inflação de 2004 ficaria em 6,2%. Esse
índice supera a meta em 0,7 ponto
percentual, mas fica longe do limite
de tolerância, que é uma taxa 2,5
pontos percentuais superior à meta
"central"-ou seja, de 8%. O BC, no
entanto, tem insistido em sinalizar
que não admite recorrer a essa "margem de erro", reservando-a para o
caso de algum choque imprevisto.
No domingo passado, esta Folha
veiculou as reservas do economista
Olivier Blanchard, do MIT (Massachusetts Institute of Technology),
sobre a eficácia do sistema de metas
numa economia com as características da brasileira. O ex-presidente do
BC Armínio Fraga também já se manifestara sobre alguns limites do uso
desse regime no Brasil.
As metas de inflação passaram a
ser adotadas após a crise cambial de
1999. Sua vantagem é contribuir para
balizar expectativas e dar maior previsibilidade à política monetária. O
que se tem verificado desde 2003, porém, é a subordinação da dinâmica
da economia ao cumprimento milimétrico das metas, transformadas
em obsessão da política econômica.
Não se trata, obviamente, de pregar
uma condescendência irresponsável
com a inflação. A estabilidade é uma
conquista a ser preservada. Cabe, porém, garantir margem de manobra e
não perder de vista que o objetivo
maior da política econômica é promover o crescimento e o emprego.
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