São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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METAS EM DEBATE

Embora as autoridades econômicas declarem que nada irá mudar no regime de metas de inflação, o debate em torno do tema permanece. Além da ata da reunião de março do Comitê de Política Monetária, que deixou entrever a possibilidade de diretrizes mais flexíveis, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) já foi claro ao sugerir objetivos menos draconianos para 2005.
O Relatório de Inflação do Banco Central, recentemente divulgado, traz projeções que demonstram como a tentativa de cumprir a meta de 5,5% estabelecida para este ano cria obstáculos para a redução dos juros -e, por conseguinte, para a criação de um ambiente mais propício ao investimento produtivo e ao consumo.
Segundo simulações que constam do documento, num cenário em que os juros caíssem no ritmo esperado pelo mercado até o final do ano, a inflação de 2004 ficaria em 6,2%. Esse índice supera a meta em 0,7 ponto percentual, mas fica longe do limite de tolerância, que é uma taxa 2,5 pontos percentuais superior à meta "central"-ou seja, de 8%. O BC, no entanto, tem insistido em sinalizar que não admite recorrer a essa "margem de erro", reservando-a para o caso de algum choque imprevisto.
No domingo passado, esta Folha veiculou as reservas do economista Olivier Blanchard, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), sobre a eficácia do sistema de metas numa economia com as características da brasileira. O ex-presidente do BC Armínio Fraga também já se manifestara sobre alguns limites do uso desse regime no Brasil.
As metas de inflação passaram a ser adotadas após a crise cambial de 1999. Sua vantagem é contribuir para balizar expectativas e dar maior previsibilidade à política monetária. O que se tem verificado desde 2003, porém, é a subordinação da dinâmica da economia ao cumprimento milimétrico das metas, transformadas em obsessão da política econômica.
Não se trata, obviamente, de pregar uma condescendência irresponsável com a inflação. A estabilidade é uma conquista a ser preservada. Cabe, porém, garantir margem de manobra e não perder de vista que o objetivo maior da política econômica é promover o crescimento e o emprego.


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