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CLÓVIS ROSSI
A "siesta" e a ortodoxia
MADRI - A Europa adiantou os relógios uma hora no domingo (é o horário de verão). O supermercado perto
de casa aproveitou para mudar o horário de abertura, das 9h (que já era
tarde, para os padrões brasileiros)
para as 9h30, ou 90 minutos depois
do habitual em São Paulo.
Fecha às 15h para a "siesta", obsessão espanhola que a globalização feriu, mas não matou nem mesmo aleijou. Reabre só às 17h30.
Claro que não são todos os comércios espanhóis que funcionam com
tamanha flexibilidade. Mas ela é suficientemente disseminada, não apenas na Espanha, mas em toda a Europa (exceto no Reino Unido).
Essa maneira de viver deve chocar
os apóstolos da teologia econômica
ortodoxa, a nova religião que prega
todos os sacrifícios no presente (cortar gastos, agüentar desemprego) em
troca do paraíso em um futuro que,
ao menos para os brasileiros, é esperado inutilmente há 500 anos.
Mesmo dormindo a "siesta", os espanhóis levaram o país a um tremendo surto de progresso, em especial nos
25 anos de democracia, a partir da
Constituição de 1978.
É até possível que os espanhóis estivessem ainda mais ricos se tivessem
seguido os manuais da ortodoxia, obsessivos com a produtividade e, portanto, inimigos da "siesta", do abrir
os negócios mais tarde etc.
Ou teriam morrido de estresse na
tentativa, vai saber.
O importante é verificar que não há
um só caminho, o estritamente ortodoxo, para a estabilidade e o progresso, ao contrário do que crê o governo
brasileiro.
Basta reler frase de Paulo Rabello
de Castro, um liberal puro, em seu
mais recente artigo na Folha:
"A palavra ortodoxia virou um triste apelido que só serve para confundir governantes mal informados (...),
que deveriam acompanhar mais de
perto o risco de ruptura social".
PS - Errei: o presidente do PT, José
Genoino, não quer varrer o caso Waldomiro Diniz para baixo do tapete,
mesmo com a nova fita. "Elas dizem
tudo, mas não aliviam o crime de
Waldomiro Diniz", esclarece.
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