São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A "siesta" e a ortodoxia

MADRI - A Europa adiantou os relógios uma hora no domingo (é o horário de verão). O supermercado perto de casa aproveitou para mudar o horário de abertura, das 9h (que já era tarde, para os padrões brasileiros) para as 9h30, ou 90 minutos depois do habitual em São Paulo.
Fecha às 15h para a "siesta", obsessão espanhola que a globalização feriu, mas não matou nem mesmo aleijou. Reabre só às 17h30.
Claro que não são todos os comércios espanhóis que funcionam com tamanha flexibilidade. Mas ela é suficientemente disseminada, não apenas na Espanha, mas em toda a Europa (exceto no Reino Unido).
Essa maneira de viver deve chocar os apóstolos da teologia econômica ortodoxa, a nova religião que prega todos os sacrifícios no presente (cortar gastos, agüentar desemprego) em troca do paraíso em um futuro que, ao menos para os brasileiros, é esperado inutilmente há 500 anos.
Mesmo dormindo a "siesta", os espanhóis levaram o país a um tremendo surto de progresso, em especial nos 25 anos de democracia, a partir da Constituição de 1978.
É até possível que os espanhóis estivessem ainda mais ricos se tivessem seguido os manuais da ortodoxia, obsessivos com a produtividade e, portanto, inimigos da "siesta", do abrir os negócios mais tarde etc.
Ou teriam morrido de estresse na tentativa, vai saber.
O importante é verificar que não há um só caminho, o estritamente ortodoxo, para a estabilidade e o progresso, ao contrário do que crê o governo brasileiro.
Basta reler frase de Paulo Rabello de Castro, um liberal puro, em seu mais recente artigo na Folha:
"A palavra ortodoxia virou um triste apelido que só serve para confundir governantes mal informados (...), que deveriam acompanhar mais de perto o risco de ruptura social".
PS - Errei: o presidente do PT, José Genoino, não quer varrer o caso Waldomiro Diniz para baixo do tapete, mesmo com a nova fita. "Elas dizem tudo, mas não aliviam o crime de Waldomiro Diniz", esclarece.


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