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EFEITOS DA CHACINA
O bárbaro assassinato de quatro civis americanos na cidade
iraquiana de Fallujah, anteontem,
poderá revelar-se um divisor de
águas no curso da guerra. O efeito
mais imediato deverá dar-se sobre as
empreiteiras que cuidam da reconstrução do país. É pouco provável que
as firmas que já estão no Iraque se retirem por causa da atrocidade, mas é
certo que outras empresas pensarão
duas vezes antes de assinar contratos
para operar no país. Também deverá
ser mais difícil recrutar técnicos civis
para supervisionar as obras.
A retração da construção, contudo,
está longe de ser a mais importante
das conseqüências que a chacina poderá provocar. A principal incógnita
é o que pensará a opinião pública
americana. Até aqui, o americano
médio foi poupado das piores imagens do esquartejamento. As principais redes de TV acataram o pedido
da Casa Branca para que as cenas
mais chocantes não fossem exibidas
no horário nobre.
Os corpos mutilados arrastados
pela população evocam a intervenção
humanitária na Somália, à qual os
Estados Unidos renunciaram depois
de um incidente semelhante. É claro
que o Iraque não é a Somália. Bush
não se retirará por conta desse horrível episódio. Muito pelo contrário, o
mais provável é que organize expedições punitivas contra os reais ou supostos responsáveis.
Se cenas como essa se repetirem,
porém, não se deve descartar o cenário de uma crescente pressão da opinião pública para Bush abandonar o
Iraque. Num ano eleitoral, esse tipo
de descontentamento pode ser fatal.
Existe o risco de atrocidades dessa
natureza se tornarem um padrão. Os
grupos radicais responsáveis pelas
ações contra a ocupação estão prestes a descobrir o poder das imagens
que são capazes de produzir, não só
sobre a opinião pública dos EUA,
mas também sobre as chamadas
massas árabes, as quais, mesmo que
condenando os assassinatos, não
deixam de aplaudir a humilhação
imposta aos invasores.
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