São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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EFEITOS DA CHACINA

O bárbaro assassinato de quatro civis americanos na cidade iraquiana de Fallujah, anteontem, poderá revelar-se um divisor de águas no curso da guerra. O efeito mais imediato deverá dar-se sobre as empreiteiras que cuidam da reconstrução do país. É pouco provável que as firmas que já estão no Iraque se retirem por causa da atrocidade, mas é certo que outras empresas pensarão duas vezes antes de assinar contratos para operar no país. Também deverá ser mais difícil recrutar técnicos civis para supervisionar as obras.
A retração da construção, contudo, está longe de ser a mais importante das conseqüências que a chacina poderá provocar. A principal incógnita é o que pensará a opinião pública americana. Até aqui, o americano médio foi poupado das piores imagens do esquartejamento. As principais redes de TV acataram o pedido da Casa Branca para que as cenas mais chocantes não fossem exibidas no horário nobre.
Os corpos mutilados arrastados pela população evocam a intervenção humanitária na Somália, à qual os Estados Unidos renunciaram depois de um incidente semelhante. É claro que o Iraque não é a Somália. Bush não se retirará por conta desse horrível episódio. Muito pelo contrário, o mais provável é que organize expedições punitivas contra os reais ou supostos responsáveis.
Se cenas como essa se repetirem, porém, não se deve descartar o cenário de uma crescente pressão da opinião pública para Bush abandonar o Iraque. Num ano eleitoral, esse tipo de descontentamento pode ser fatal.
Existe o risco de atrocidades dessa natureza se tornarem um padrão. Os grupos radicais responsáveis pelas ações contra a ocupação estão prestes a descobrir o poder das imagens que são capazes de produzir, não só sobre a opinião pública dos EUA, mas também sobre as chamadas massas árabes, as quais, mesmo que condenando os assassinatos, não deixam de aplaudir a humilhação imposta aos invasores.


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