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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Criar empregos construtivos: prioridade nš 1
O Brasil não consegue crescer e
combater a inflação. Ou faz uma
coisa, ou faz outra. Essa tem sido a
nossa trajetória nos últimos dez anos.
No ano passado, comemoramos o alcance da meta de inflação (5,1%), mas
tivemos de amargar um crescimento
ridículo (2,3%). Para 2006, igualmente, será mais fácil controlar a inflação
do que acelerar o crescimento. Se o
Brasil continuar nesse ritmo, adverte
um estudo da CNI, o país levará cerca
de cem anos para chegar à renda da
Coréia do Sul!
O que impede os economistas de
implementar modelos que resolvam
os dois problemas ao mesmo tempo?
Afinal, tantos países fizeram isso -e
com grande sucesso. Não é preciso
sair da América Latina para recolher
exemplos. O do Chile é o mais eloqüente.
Os próprios economistas, porém,
estão cansados de alertar para o fato
de que, sem um severo controle do déficit público, não se chega a crescimento com preços estáveis. Nesse
sentido, o país progrediu pouco. Nos
últimos anos, houve até retrocesso. As
despesas públicas explodiram e os investimentos minguaram.
Os dados são preocupantes. Em
2005, as despesas de custeio do governo federal chegaram a R$ 64 bilhões,
enquanto os recursos alocados em investimentos ficaram em R$ 16 bilhões.
Isso é um absurdo. O que o governo
gastou na compra de material, pagamento de serviços de terceiros, cafezinhos e viagens foi quatro vezes mais
do que investiu em rodovias, saneamento e energia elétrica ("Governo
gasta com a máquina quatro vezes o
que investe", "O Estado de S. Paulo",
20/03/ 2006).
Apesar do discurso de austeridade
econômica, os dados indicam que, só
no ano passado, os gastos de custeio
da máquina pública cresceram 29%.
Assim não há bolso que agüente para
pagar tributos ao governo, que, aliás,
bate recordes de arrecadação todos os
meses. Qualquer empresa que praticasse o expediente de gastar mais do
que ganha estaria quebrada há muito
tempo.
Se há uma reforma a ser feita com a
máxima urgência é a da área fiscal. Esta, a propósito, não exige mudança na
Constituição Federal nem confrontos
desgastantes entre os parlamentares.
É o tipo da reforma que, no jargão
atual, depende da chamada "vontade
política".
Um arrocho nas despesas e um aumento na eficiência nos gastos permitiriam reduzir drasticamente a relação
entre a dívida pública e o PIB, que, hoje, está em torno de 52%. Um estudo
da Fiesp indica que, se essa relação
passasse para 25% em 2015, a taxa de
crescimento do PIB brasileiro saltaria
dos atuais 2,3% para 7% naquele ano,
o que representaria uma média anual
de 5,7%.
Aí, sim, se poderia pensar em emprego e renda adequados para os que
entram e para os que estão no mercado de trabalho. Ademais, essa seria a
taxa compatível com a abundância de
recursos naturais de que o Brasil dispõe e com a capacidade de trabalho da
nossa gente. Para os que gostam do
jargão, vou repetir: essa travessia depende só de vontade política. Criar
empregos construtivos, sim. Empreguismo, não.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
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