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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Apagão e tragédia no ar
SÃO PAULO - Lula nunca tratou a
crise aérea como um assunto grave
ou prioritário. Há seis meses, o governo vem levando o problema na
barrigada, com gestos que oscilam
entre a soberba e o desleixo. Um
dos sintomas é a permanência piedosa de Waldir Pires no cargo.
No final de 2006, decorridos três
meses do acidente do Boeing que
destampou a caixa-preta do setor, o
Planalto comemorava a aprovação
recorde de Lula no Datafolha, resultado quase simultâneo à terceira
onda de transtornos nos aeroportos. Boa parte do petismo festejou
ali mais um sinal do divórcio entre
as elites "viajantes" e o povo, alheio
ao drama da "minoria derrotada".
Essa mentalidade deve ter alimentado a leniência irresponsável
de quem perdeu a oportunidade de
conduzir a desmilitarização do controle aéreo sem ficar refém de sargentos amotinados. Agora é tarde.
Afora isso, conspiram para o colapso iminente do sistema aéreo o
evidente sucateamento da infra-estrutura dos aeroportos e os muitos
indícios de rapinagem na Infraero,
coisas que andam juntas.
Tudo somado, o fato é que os senhores do caos estão brincando
com a vida alheia. Apinhados, os aeroportos tornaram-se campos de
resistência física e mental. Humilhados e sem saber a quem recorrer,
passageiros tornaram-se reféns de
uma gincana de horrores.
Na sexta-feira, uma amiga pegou
a ponte aérea Rio-São Paulo. Esperou quase cinco horas no saguão e
mais uma hora dentro da aeronave.
Os passageiros ainda não tinham
certeza de que iriam viajar quando,
subitamente, o comandante deu as
ordens de afivelar os cintos, taxiou
a toque de caixa e decolou em segundos. Parecia um filme de desenho animado. A justificativa veio no
ar: fechado, Congonhas só aceitaria
o pouso de aviões em trânsito.
Parece óbvio que neste ambiente
de pressão à beira do caos procedimentos de segurança estejam sendo relaxados ou comprometidos.
Quanto falta para a consumação de
uma nova tragédia?
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