São Paulo, segunda-feira, 02 de abril de 2007

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Apagão e tragédia no ar

SÃO PAULO - Lula nunca tratou a crise aérea como um assunto grave ou prioritário. Há seis meses, o governo vem levando o problema na barrigada, com gestos que oscilam entre a soberba e o desleixo. Um dos sintomas é a permanência piedosa de Waldir Pires no cargo.
No final de 2006, decorridos três meses do acidente do Boeing que destampou a caixa-preta do setor, o Planalto comemorava a aprovação recorde de Lula no Datafolha, resultado quase simultâneo à terceira onda de transtornos nos aeroportos. Boa parte do petismo festejou ali mais um sinal do divórcio entre as elites "viajantes" e o povo, alheio ao drama da "minoria derrotada".
Essa mentalidade deve ter alimentado a leniência irresponsável de quem perdeu a oportunidade de conduzir a desmilitarização do controle aéreo sem ficar refém de sargentos amotinados. Agora é tarde.
Afora isso, conspiram para o colapso iminente do sistema aéreo o evidente sucateamento da infra-estrutura dos aeroportos e os muitos indícios de rapinagem na Infraero, coisas que andam juntas.
Tudo somado, o fato é que os senhores do caos estão brincando com a vida alheia. Apinhados, os aeroportos tornaram-se campos de resistência física e mental. Humilhados e sem saber a quem recorrer, passageiros tornaram-se reféns de uma gincana de horrores.
Na sexta-feira, uma amiga pegou a ponte aérea Rio-São Paulo. Esperou quase cinco horas no saguão e mais uma hora dentro da aeronave. Os passageiros ainda não tinham certeza de que iriam viajar quando, subitamente, o comandante deu as ordens de afivelar os cintos, taxiou a toque de caixa e decolou em segundos. Parecia um filme de desenho animado. A justificativa veio no ar: fechado, Congonhas só aceitaria o pouso de aviões em trânsito.
Parece óbvio que neste ambiente de pressão à beira do caos procedimentos de segurança estejam sendo relaxados ou comprometidos. Quanto falta para a consumação de uma nova tragédia?


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