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Espasmo televisivo
A CADA declaração das autoridades públicas sobre a
proposta de criar uma nova TV estatal no Brasil, essa idéia
se parece menos com um projeto
e mais com um espasmo.
O governo federal não demonstra o menor conhecimento
a respeito da realidade das TVs
estatais já existentes. Tampouco
fornece garantias para o que vem
recitando como mantra: que essa
emissora, à diferença de praticamente todas as outras redes estatais, não será "chapa-branca".
"A BBC e a televisão francesa
são assim", disse o jornalista
Franklin Martins, novo ministro
da Comunicação Social. São mais
ou menos assim, mas não em razão da vontade magnânima do
governo que as criou. Sua autonomia, que não deixa de passar
por situações de crise, resulta de
freios institucionais que a sociedade interpôs, no decurso de décadas, à tendência "chapa-branca" inerente a todo canal público.
"Se vai ter meio ponto de audiência ou zero, não me interessa". As palavras displicentes do
presidente Lula, ditas durante
cerimônia de posse de ministros
na quinta-feira, além de desrespeitosas ao contribuinte, são
mais um indício de grave desconhecimento da realidade.
TVs estatais cuja audiência é
próxima de zero já abundam no
país -é raríssimo, na verdade,
encontrar algum caso que não se
enquadre nessa regra. Sacar R$
500 milhões do Tesouro a fim de
implantar mais um canal irrelevante é um contra-senso. A grande maioria da população seria
obrigada a financiar outra iniciativa da qual não usufrui.
Não passa, portanto, de comichão episódica, que mal disfarça
o impulso de autopromoção, a
idéia de lançar uma nova TV estatal no país. O mínimo que se
espera do governo é que apresente um diagnóstico e um projeto dignos do nome sobre a sua
nova obsessão -embora o melhor mesmo seja esperar o desejo
passar e esquecer o assunto.
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