São Paulo, segunda-feira, 02 de abril de 2007

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Espasmo televisivo

A CADA declaração das autoridades públicas sobre a proposta de criar uma nova TV estatal no Brasil, essa idéia se parece menos com um projeto e mais com um espasmo.
O governo federal não demonstra o menor conhecimento a respeito da realidade das TVs estatais já existentes. Tampouco fornece garantias para o que vem recitando como mantra: que essa emissora, à diferença de praticamente todas as outras redes estatais, não será "chapa-branca".
"A BBC e a televisão francesa são assim", disse o jornalista Franklin Martins, novo ministro da Comunicação Social. São mais ou menos assim, mas não em razão da vontade magnânima do governo que as criou. Sua autonomia, que não deixa de passar por situações de crise, resulta de freios institucionais que a sociedade interpôs, no decurso de décadas, à tendência "chapa-branca" inerente a todo canal público.
"Se vai ter meio ponto de audiência ou zero, não me interessa". As palavras displicentes do presidente Lula, ditas durante cerimônia de posse de ministros na quinta-feira, além de desrespeitosas ao contribuinte, são mais um indício de grave desconhecimento da realidade.
TVs estatais cuja audiência é próxima de zero já abundam no país -é raríssimo, na verdade, encontrar algum caso que não se enquadre nessa regra. Sacar R$ 500 milhões do Tesouro a fim de implantar mais um canal irrelevante é um contra-senso. A grande maioria da população seria obrigada a financiar outra iniciativa da qual não usufrui.
Não passa, portanto, de comichão episódica, que mal disfarça o impulso de autopromoção, a idéia de lançar uma nova TV estatal no país. O mínimo que se espera do governo é que apresente um diagnóstico e um projeto dignos do nome sobre a sua nova obsessão -embora o melhor mesmo seja esperar o desejo passar e esquecer o assunto.


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