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O G20 e seus limites
Grupo tende a tomar o lugar do G8 como fórum global, mas divergências reduzem expectativa de resultados em Londres
EM LINHAS gerais, os debates preparatórios para a
cúpula do G20, que reúne
hoje em Londres os países de maior peso econômico, se
concentraram em quatro grandes temas. São eles uma ação global contra a crise, o compromisso de não impor novas restrições
ao comércio, um novo sistema de
regulação bancária mundial e o
reforço das instituições multilaterais (FMI e Banco Mundial).
Há divergências em cada um
desses temas. Sobre as medidas
para deter a crise global, os EUA
pressionam a União Europeia
para que adote estímulos fiscais
equivalentes a 2% do PIB neste
ano e no próximo. Outra proposta em debate é a criação de um
fundo para reanimar o crédito ao
comércio mundial.
Para o governo Obama, os EUA
arcam com os maiores esforços
para realimentar a economia
sem que seus parceiros, também
em recessão, façam a sua parte.
Em 2009, o descompasso entre
gastos e receita estatais americanos atingirá US$ 1,9 trilhão -espantosos 13,1% do PIB.
Do outro lado do Atlântico, os
governos preferem aguardar os
impactos das ações já tomadas. A
chanceler alemã, Angela Merkel,
argumenta que os governos precisam pensar, desde logo, nas
"estratégias de saída". Isto é, o
retorno à disciplina fiscal, o desmonte de medidas protecionistas e o enxugamento do excesso
de estímulo, monetário e fiscal.
Os líderes mundiais reafirmam o compromisso de combater o protecionismo. Mas essa
disposição ainda precisa se concretizar: um estudo do Banco
Mundial mostrou que, após a cúpula de Washington, em novembro, 17 dos países do G20 adotaram um conjunto de 47 ações de
restrição ao livre comércio.
No que se refere à reforma da
regulação financeira, França e
Alemanha criticam os EUA por
demorarem demais para resolver o problema de seus bancos
(limpar dos balanços os "ativos
tóxicos"), sem o que o crescimento econômico não poderá
ser retomado. A posição da Europa é bastante intervencionista e
contempla um organismo supranacional para fiscalizar os grandes bancos globais. Mas os EUA
refutam a ideia de um ente externo ditar regras no seu território.
No caso do FMI, há um consenso de que o Fundo precisa de
mais dinheiro. EUA, Japão e UE
concordam em, no mínimo, duplicar sua capacidade de empréstimo, para US$ 500 bilhões. Brasil, China, Índia e Rússia, por seu
turno, defendem alteração substantiva de poder dentro da instituição. Isso significa conceder
aos países em desenvolvimento
maior potencial de voto, medida
que já tarda. Atualmente, os europeus detêm 32% dos votos e os
EUA, 17%, enquanto a China tem
3,6% e o Brasil, 1,3%. Uma revisão pode ocorrer em 2011.
Tais conflitos e divergências
podem limitar o alcance das decisões da cúpula. Gordon Brown,
premiê britânico, já afirmou que
o encontro será "apenas uma
etapa em um processo".
Concretamente, o evento de
Londres tende a referendar o papel do grupo, em substituição ao
G8 (os sete países mais ricos,
além da Rússia), como principal
fórum de discussão dos temas
econômicos globais. Os brasileiros não deveriam menosprezar a
importância desse passo.
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