São Paulo, quinta-feira, 02 de abril de 2009

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O G20 e seus limites

Grupo tende a tomar o lugar do G8 como fórum global, mas divergências reduzem expectativa de resultados em Londres

EM LINHAS gerais, os debates preparatórios para a cúpula do G20, que reúne hoje em Londres os países de maior peso econômico, se concentraram em quatro grandes temas. São eles uma ação global contra a crise, o compromisso de não impor novas restrições ao comércio, um novo sistema de regulação bancária mundial e o reforço das instituições multilaterais (FMI e Banco Mundial).
Há divergências em cada um desses temas. Sobre as medidas para deter a crise global, os EUA pressionam a União Europeia para que adote estímulos fiscais equivalentes a 2% do PIB neste ano e no próximo. Outra proposta em debate é a criação de um fundo para reanimar o crédito ao comércio mundial.
Para o governo Obama, os EUA arcam com os maiores esforços para realimentar a economia sem que seus parceiros, também em recessão, façam a sua parte. Em 2009, o descompasso entre gastos e receita estatais americanos atingirá US$ 1,9 trilhão -espantosos 13,1% do PIB.
Do outro lado do Atlântico, os governos preferem aguardar os impactos das ações já tomadas. A chanceler alemã, Angela Merkel, argumenta que os governos precisam pensar, desde logo, nas "estratégias de saída". Isto é, o retorno à disciplina fiscal, o desmonte de medidas protecionistas e o enxugamento do excesso de estímulo, monetário e fiscal.
Os líderes mundiais reafirmam o compromisso de combater o protecionismo. Mas essa disposição ainda precisa se concretizar: um estudo do Banco Mundial mostrou que, após a cúpula de Washington, em novembro, 17 dos países do G20 adotaram um conjunto de 47 ações de restrição ao livre comércio.
No que se refere à reforma da regulação financeira, França e Alemanha criticam os EUA por demorarem demais para resolver o problema de seus bancos (limpar dos balanços os "ativos tóxicos"), sem o que o crescimento econômico não poderá ser retomado. A posição da Europa é bastante intervencionista e contempla um organismo supranacional para fiscalizar os grandes bancos globais. Mas os EUA refutam a ideia de um ente externo ditar regras no seu território.
No caso do FMI, há um consenso de que o Fundo precisa de mais dinheiro. EUA, Japão e UE concordam em, no mínimo, duplicar sua capacidade de empréstimo, para US$ 500 bilhões. Brasil, China, Índia e Rússia, por seu turno, defendem alteração substantiva de poder dentro da instituição. Isso significa conceder aos países em desenvolvimento maior potencial de voto, medida que já tarda. Atualmente, os europeus detêm 32% dos votos e os EUA, 17%, enquanto a China tem 3,6% e o Brasil, 1,3%. Uma revisão pode ocorrer em 2011.
Tais conflitos e divergências podem limitar o alcance das decisões da cúpula. Gordon Brown, premiê britânico, já afirmou que o encontro será "apenas uma etapa em um processo".
Concretamente, o evento de Londres tende a referendar o papel do grupo, em substituição ao G8 (os sete países mais ricos, além da Rússia), como principal fórum de discussão dos temas econômicos globais. Os brasileiros não deveriam menosprezar a importância desse passo.


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