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São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O verdadeiro poder

SÃO PAULO - Na entrevista que concedeu a Mônica Bergamo, ontem publicada, o consultor Antoninho Marmo Trevisan fez a melhor síntese não apenas dos riscos que corre o governo Luiz Inácio Lula da Silva mas de como é o jogo político hoje, no Brasil e no mundo.
Resumo: o capitalismo financeiro é hoje predominante. "E quem tem renda se aparelha melhor", diz Trevisan. Tradução: há uma hegemonia cultural e midiática das opiniões de gente do mundo financeiro.
Essa avaliação serve para o mundo todo. No Brasil, especificamente, "o aparelho" financeiro é usado, diz ainda Trevisan, "para defender juros altos como âncora de um processo não-inflacionário".
"Economistas de bancos repetem isso todos os dias e geram uma verdade absoluta". Mas, termina o raciocínio, se se seguir esse conceito rigidamente, como o governo Lula vem fazendo até agora, "quebra todas as empresas do Brasil".
Não sei se Trevisan concorda, mas é evidente que essa hegemonia cultural e midiática do setor financeiro tem uma segunda consequência: o governo, qualquer governo, opta por adotar políticas que não ofendam o poder real e, por extensão, a sua capacidade de gerar críticas virulentas à qualquer inovação.
É mais fácil prejudicar ou deixar de atender assalariados e marginalizados em geral do que banqueiros, como é óbvio.
Daí vem a ênfase absoluta em reformas como a previdenciária e a tributária, que, não obstante a necessidade de ambas, "sozinhas, não mudarão a face injusta de nossa sociedade", como disse o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, um petista que parece ainda não ter perdido o contato com a realidade e, por isso, não fica repetindo as "verdades absolutas" que Trevisan critica.
Trevisan ainda confia em que Lula vá virar o jogo. Pode ser. Mas a cada dia fica mais difícil, porque é mais cômodo jogá-lo de acordo com as verdades dos poderosos.


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