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CLÓVIS ROSSI
O verdadeiro poder
SÃO PAULO - Na entrevista que concedeu a Mônica Bergamo, ontem publicada, o consultor Antoninho Marmo Trevisan fez a melhor síntese não
apenas dos riscos que corre o governo
Luiz Inácio Lula da Silva mas de como é o jogo político hoje, no Brasil e
no mundo.
Resumo: o capitalismo financeiro é
hoje predominante. "E quem tem
renda se aparelha melhor", diz Trevisan. Tradução: há uma hegemonia
cultural e midiática das opiniões de
gente do mundo financeiro.
Essa avaliação serve para o mundo
todo. No Brasil, especificamente, "o
aparelho" financeiro é usado, diz
ainda Trevisan, "para defender juros
altos como âncora de um processo
não-inflacionário".
"Economistas de bancos repetem isso todos os dias e geram uma verdade
absoluta". Mas, termina o raciocínio,
se se seguir esse conceito rigidamente,
como o governo Lula vem fazendo
até agora, "quebra todas as empresas
do Brasil".
Não sei se Trevisan concorda, mas é
evidente que essa hegemonia cultural
e midiática do setor financeiro tem
uma segunda consequência: o governo, qualquer governo, opta por adotar políticas que não ofendam o poder real e, por extensão, a sua capacidade de gerar críticas virulentas à
qualquer inovação.
É mais fácil prejudicar ou deixar de
atender assalariados e marginalizados em geral do que banqueiros, como é óbvio.
Daí vem a ênfase absoluta em reformas como a previdenciária e a tributária, que, não obstante a necessidade de ambas, "sozinhas, não mudarão a face injusta de nossa sociedade", como disse o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, um petista
que parece ainda não ter perdido o
contato com a realidade e, por isso,
não fica repetindo as "verdades absolutas" que Trevisan critica.
Trevisan ainda confia em que Lula
vá virar o jogo. Pode ser. Mas a cada
dia fica mais difícil, porque é mais cômodo jogá-lo de acordo com as verdades dos poderosos.
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