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ELIANE CANTANHÊDE
O amigão
BRASÍLIA - Todo mundo dizia que José Sarney trabalhava intensamente
para livrar a cara de ACM, amigo e
ministro do seu governo, no processo
dos grampos da Bahia.
Enquanto isso, o próprio José Sarney, seus assessores e aliados tentavam de tudo para dar uma versão diferente: a de que ele se comportava e
continuaria se comportando como
"um magistrado". "Lavaria as
mãos", sem interferir -nem a favor
nem contra.
A decisão da Mesa Diretora do Senado, anteontem, acabou com qualquer dúvida. Sarney foi central, decisivo, para o resultado: a Mesa recusou o pedido de abertura do processo
por quebra de decoro, o que, na prática e para a história, significa arquivamento. Até pelo menos alguém ou
algum partido entrar com recurso.
O envolvimento direto de Sarney ficou patente, principalmente, pelo dia
escolhido para livrar a cara de ACM:
quarta-feira, 30 de abril, ao mesmo
tempo véspera do feriado de Primeiro
de Maio e dia da festa política superproduzida em que Lula entregou os
textos das reformas tributária e da
Previdência ao Congresso.
Com tantos discursos, textos, governadores, efeitos de marketing (como
ir de ônibus ou a pé entre o Planalto e
o Congresso) e muita polêmica em
torno das reformas, o caso ACM por
pouco não ficou soterrado. Tanto no
interesse dos próprios políticos como
no espaço da imprensa.
O dia, portanto, foi escolhido a dedo para tirar ACM e a decisão, no
mínimo questionável, dos holofotes
das críticas e dos críticos. E quem escolheu o dia foi o amigão Sarney.
O presidente do Senado vem se empenhando para polir cada vez mais
seu currículo, e com nuanças de esquerda. A aproximação lenta e segura com Lula e o PT, que não é de hoje,
faz parte disso. E os elogios ao presidente também. Ele foi dos primeiros
a defender a reeleição em 2006.
Mas não é favorecendo escancaradamente ACM e fingindo que ele nada teve com os grampos que Sarney
vai dourar o currículo, dar fecho de
ouro à carreira e confirmar positivamente o seu nome para a história.
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