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São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

O amigão

BRASÍLIA - Todo mundo dizia que José Sarney trabalhava intensamente para livrar a cara de ACM, amigo e ministro do seu governo, no processo dos grampos da Bahia.
Enquanto isso, o próprio José Sarney, seus assessores e aliados tentavam de tudo para dar uma versão diferente: a de que ele se comportava e continuaria se comportando como "um magistrado". "Lavaria as mãos", sem interferir -nem a favor nem contra.
A decisão da Mesa Diretora do Senado, anteontem, acabou com qualquer dúvida. Sarney foi central, decisivo, para o resultado: a Mesa recusou o pedido de abertura do processo por quebra de decoro, o que, na prática e para a história, significa arquivamento. Até pelo menos alguém ou algum partido entrar com recurso.
O envolvimento direto de Sarney ficou patente, principalmente, pelo dia escolhido para livrar a cara de ACM: quarta-feira, 30 de abril, ao mesmo tempo véspera do feriado de Primeiro de Maio e dia da festa política superproduzida em que Lula entregou os textos das reformas tributária e da Previdência ao Congresso.
Com tantos discursos, textos, governadores, efeitos de marketing (como ir de ônibus ou a pé entre o Planalto e o Congresso) e muita polêmica em torno das reformas, o caso ACM por pouco não ficou soterrado. Tanto no interesse dos próprios políticos como no espaço da imprensa.
O dia, portanto, foi escolhido a dedo para tirar ACM e a decisão, no mínimo questionável, dos holofotes das críticas e dos críticos. E quem escolheu o dia foi o amigão Sarney.
O presidente do Senado vem se empenhando para polir cada vez mais seu currículo, e com nuanças de esquerda. A aproximação lenta e segura com Lula e o PT, que não é de hoje, faz parte disso. E os elogios ao presidente também. Ele foi dos primeiros a defender a reeleição em 2006.
Mas não é favorecendo escancaradamente ACM e fingindo que ele nada teve com os grampos que Sarney vai dourar o currículo, dar fecho de ouro à carreira e confirmar positivamente o seu nome para a história.


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