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Inação injustificável
É inadmissível que, após 7 meses do pior desastre aéreo do país, pouco se tenha feito para evitar repetição da tragédia
A EXASPERANTE ineficiência do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva vai assumindo contornos cada vez mais graves. O
Planalto já dera uma contribuição decisiva para a crise aérea ao
contingenciar de forma irresponsável as verbas destinadas à
segurança do setor. Verifica-se
agora que, passados sete meses
do pior desastre de avião da história do país, no qual morreram
154 pessoas, as autoridades não
conseguiram implementar nem
mesmo as medidas emergenciais
a que se propuseram.
Como mostrou reportagem da
Folha de segunda-feira, a Aeronáutica ainda não cumpriu as recomendações "de curto prazo"
feitas por seus próprios órgãos.
As únicas exceções são algumas
mudanças no manual de regras
-para adequá-las ao padrão internacional- e as aulas de inglês
para controladores de tráfego aéreo -que já estavam previstas
antes do acidente.
Outras ações relativamente
simples -para as quais um prazo
de sete meses seria mais do que
suficiente-, como melhorias no
software utilizado pelos controladores e alterações de procedimentos, não saíram do papel. Estão "em análise", no dizer da Força Aérea Brasileira (FAB).
É estranho. Afinal, as recomendações foram feitas pelo
Centro Nacional de Investigações e Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos (Cenipa) -um órgão da FAB- e aprovadas pelo
Departamento de Controle do
Espaço Aéreo (Decea) -também
vinculado aos militares. Por
quantas repartições mais as medidas precisam passar antes que
se dê a "análise" por concluída?
Também causa espécie o fato
de a Aeronáutica negar que tenha conhecimento de uma segunda lista de recomendações
-também não cumpridas-, estas feitas pela National Transportation Safety Board (NTSB),
a agência norte-americana incumbida da segurança aérea. A
NTSB, afinal, participa das investigações sobre o desastre em
caráter oficial.
Pior, em fóruns internacionais,
o Brasil vem sustentando que já
tomou as precauções necessárias
após o acidente de 29 de setembro do ano passado. No encontro
da Organização da Aviação Civil
Internacional (OACI), realizado
no mês passado na Costa Rica, o
documento oficial brasileiro
afirmou: "Todas as ações que podiam ser implementadas na esfera brasileira foram lançadas, incluindo a implementação de algumas recomendações preliminares de segurança".
Na melhor hipótese, estão faltando agilidade e coordenação às
autoridades responsáveis pela
segurança aérea. Na pior, estão
deliberadamente tentando escamotear a realidade.
Qualquer que seja o caso, é
inadmissível que, passados sete
meses da tragédia aérea, quase
nada tenha sido feito para evitar
que algo semelhante se repita.
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