São Paulo, quarta-feira, 02 de maio de 2007

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Inação injustificável

É inadmissível que, após 7 meses do pior desastre aéreo do país, pouco se tenha feito para evitar repetição da tragédia

A EXASPERANTE ineficiência do governo de Luiz Inácio Lula da Silva vai assumindo contornos cada vez mais graves. O Planalto já dera uma contribuição decisiva para a crise aérea ao contingenciar de forma irresponsável as verbas destinadas à segurança do setor. Verifica-se agora que, passados sete meses do pior desastre de avião da história do país, no qual morreram 154 pessoas, as autoridades não conseguiram implementar nem mesmo as medidas emergenciais a que se propuseram.
Como mostrou reportagem da Folha de segunda-feira, a Aeronáutica ainda não cumpriu as recomendações "de curto prazo" feitas por seus próprios órgãos. As únicas exceções são algumas mudanças no manual de regras -para adequá-las ao padrão internacional- e as aulas de inglês para controladores de tráfego aéreo -que já estavam previstas antes do acidente.
Outras ações relativamente simples -para as quais um prazo de sete meses seria mais do que suficiente-, como melhorias no software utilizado pelos controladores e alterações de procedimentos, não saíram do papel. Estão "em análise", no dizer da Força Aérea Brasileira (FAB).
É estranho. Afinal, as recomendações foram feitas pelo Centro Nacional de Investigações e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) -um órgão da FAB- e aprovadas pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) -também vinculado aos militares. Por quantas repartições mais as medidas precisam passar antes que se dê a "análise" por concluída?
Também causa espécie o fato de a Aeronáutica negar que tenha conhecimento de uma segunda lista de recomendações -também não cumpridas-, estas feitas pela National Transportation Safety Board (NTSB), a agência norte-americana incumbida da segurança aérea. A NTSB, afinal, participa das investigações sobre o desastre em caráter oficial.
Pior, em fóruns internacionais, o Brasil vem sustentando que já tomou as precauções necessárias após o acidente de 29 de setembro do ano passado. No encontro da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), realizado no mês passado na Costa Rica, o documento oficial brasileiro afirmou: "Todas as ações que podiam ser implementadas na esfera brasileira foram lançadas, incluindo a implementação de algumas recomendações preliminares de segurança".
Na melhor hipótese, estão faltando agilidade e coordenação às autoridades responsáveis pela segurança aérea. Na pior, estão deliberadamente tentando escamotear a realidade.
Qualquer que seja o caso, é inadmissível que, passados sete meses da tragédia aérea, quase nada tenha sido feito para evitar que algo semelhante se repita.


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