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JOSÉ SARNEY
Itaipu: solução ou problema
TORCI PELA vitória do ex-bispo Lugo. A alternância de poder é um aprofundamento da
democracia. Seus exageros de campanha são arroubos de luta. O governo lida com realidades, na famosa concepção de Bismarck. Lugo está certo quando cobra de Itaipu maior transparência e resultados para o seu país, mas está errado
em atribuir a falta deles ao Brasil,
quando são uma posição política
do Paraguai, cujo governo até hoje
mantém um inaceitável segredo
para o seu povo de quanto e como é
empregado o que recebe e como
funciona a binacional de Itaipu.
Estava no Senado quando o Tratado de Itaipu foi aprovado, em
1973. Antes, uma grande discussão,
técnica e política, se estabeleceu no
país sobre o aproveitamento energético do rio Paraná. Se deveria ser
numa usina toda em território nacional ou num projeto conjunto
com o Paraguai.
Desde a década de 50 o Brasil começou a estudar o potencial energético daquelas águas. O engenheiro Marcondes Ferraz, construtor
de Paulo Afonso, foi chamado por
Gabriel Passos, nacionalista e
grande defensor da soberania brasileira, então Ministro de Minas e
Energia, para que expusesse ao
presidente Jango a sua solução para o problema. Ele apresentou um
projeto que, localizado a 50 quilômetros de Sete Quedas, seria totalmente em território brasileiro,
com capacidade de dez mil megawatts e preservando as cachoeiras.
Foi um crime inundá-las. Jango
mandou que ele tocasse o projeto
"a caneladas". O presidente caiu, e
o assunto parou. A Escola Superior
de Guerra estudava o assunto sob o
aspecto estratégico e optou, para
unir mais o Paraguai e o Brasil, por
uma obra binacional, que teria a
vantagem de sepultar uma questão
de fronteira -demarcada em 1874
e nunca contestada- inventada
pelo chanceler Pastor.
O Brasil abdicou do protejo de
Marcondes Ferraz para ajudar o
Paraguai, país ao qual dávamos um
tratamento diferenciado desde a
"maldita guerra" na expressão de
Doratioto e no desejo de Nabuco de
Araújo, Pimenta Bueno, Saraiva e
outros.
A construção de Itaipu foi toda
bancada pelo Brasil. O Paraguai
não entrou com um tostão e tem
um patrimônio de US$ 30 bilhões,
metade do que vale a usina. Compramos a energia a US$ 37 o MW/
h, enquanto eles pagam US$ 24. O
Paraguai já recebeu de Itaipu US$
4,5 bilhões, líquidos. Receberá até
2023 mais US$ 7,5 bilhões.
Assim, o ex-bispo Lugo está certo quando defende o seu país e deseja melhor aproveitamento de
Itaipu por sua pátria. Mas está errado quando nos chama de imperialistas e espoliadores.
Itaipu não pode ser uma dor de
cabeça. Ela é um exemplo de solidariedade continental.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna
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