São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002

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VALDO CRUZ

Uns trocados pela vida

BRASÍLIA - Triste país aquele que, envergonhadamente, comemora o fato de ter apresentado uma queda menor do que a esperada em sua riqueza. Foi o que presenciamos na semana que passou.
Logo após a divulgação dos dados sobre o comportamento do PIB brasileiro, indicando que houve um recuo de 0,73% no primeiro trimestre deste ano, a sensação em alguns gabinetes do governo FHC foi de alívio.
Óbvio que cair 0,73% não é tão ruim quanto despencar 1,6% -o que alguns analistas chegaram a prever. Mas infelizmente estamos exatamente nessa situação -de esfregar as mãos de contentamento quando a notícia não é tão ruim quanto poderia ser.
Enquanto isso, 16 brasileiros enfrentam um assalto num ônibus em Campinas. Mais um entre tantos que acontecem diariamente.
Antes de fugir, os assaltantes mataram friamente três passageiros. O relato de quem escapou é assustador: os colegas de viagem foram mortos porque não tinham nenhum tostão furado para dar a seus algozes.
Poderíamos dizer, na lógica do pelo-menos-não-foi-tão-ruim, adotada por alguns tecnocratas, que outros 13 brasileiros que estavam naquele ônibus sobreviveram.
Mas nem eles têm garantia de que na próxima viagem terão a mesma sorte. Afinal, aprenderam que andar de carteira vazia pode ser fatal. O problema é que ter bolsos recheados de reais nem sempre depende deles.
Na verdade, enquanto se comemorar em Brasília um resultadozinho não tão ruim quanto se imaginava na nossa economia, continuará alta a probabilidade de mais e mais passageiros andarem de bolsos vazios em ônibus pelo Brasil afora.
Claro que até em tempos de pujança econômica também estamos expostos à criminalidade -nem sempre associada ao desastre econômico.
Em fases de vacas gordas, no entanto, o risco é bem menor. Na pior das hipóteses, é sempre possível ter alguns trocados, que podem valer uma vida.



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