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BORIS FAUSTO
A Espanha e o "eixo do bem"
A integração da Espanha ao
"eixo do bem" foi um lance ousado e arriscado do governo conservador (PP), liderado por José María Aznar. Ousado e arriscado por marcar
diferenças em relação aos dois grandes parceiros da União Européia -a
França e a Alemanha- e por lançar o
país no apoio a uma guerra repudiada
por 95% dos espanhóis.
Por algum tempo, teve-se a impressão de que Aznar decretara sua morte
política e precipitara uma estrondosa
derrota do PP. Mas não é isso o que
vem acontecendo. Entre outros fatores, a curta duração da guerra do Iraque veio em seu socorro, embora a sequência dos fatos que se seguiram ao
conflito acrescentasse novos riscos para o governo.
Entre esses fatos destacou-se, a poucos dias das eleições municipais e das
regiões autônomas, a sequência noturna de atentados terroristas em Casablanca, tendo como alvo principal
um restaurante espanhol. Evidenciou-se assim, de forma contundente, que a
Espanha entrou na lista de países-alvos do terrorismo, não obstante a tentativa do primeiro-ministro de negar
essa vinculação.
Mas a rejeição maciça ao envolvimento da Espanha na guerra, assim
como a comoção provocada pelo
atentado de Casablanca, que resultou
em algumas vítimas de nacionalidade
espanhola, não produziu uma reviravolta no quadro político, como demonstram os resultados das eleições
realizadas no último 25 de maio.
A tentativa da oposição socialista
(PSOE), liderada por Rodríguez Sapatero, no curso da campanha, no sentido de explorar o forte descontentamento da população com relação à
política externa, não teve êxito. É certo
que o PSOE alcançou a maioria de votos em âmbito nacional, embora por
margem estreita, e logrou assumir o
governo da Comunidade (Província)
de Madri, em aliança com a minoritária Izquierda Unida (IZ). Porém o PP
manteve o controle das prefeituras
das maiores cidades, aí incluída Madri
- centro de uma disputa importante,
pelo significado que a capital representa, em termos de poder e como expressão simbólica.
A votação significativa do PP tem
muito a ver com as condições econômicas favoráveis da Espanha nos últimos anos, levando amplos setores
acomodados da população a recusar
mudanças, mesmo limitadas. Não por
acaso, empenhado diretamente na
campanha, com uma capacidade de liderança incontestável, Aznar recuperou seu discurso nitidamente de direita, explorando os supostos riscos à estabilidade que uma vitória dos socialistas, com apoio dos comunistas, iria
provocar.
Desse modo, as eleições municipais
e autonômicas não serviram como indicador do que ocorrerá no país nas
eleições gerais do próximo ano. O país
continua dividido entre duas tendências partidárias, com força quase
igual. Essa divisão é um eloquente
exemplo de que, reformuladas, ou
mudando às vezes de substância, as
diferenças entre esquerda e direita
continuam a existir. No caso da Espanha, isso é certo, tanto no plano interno -em torno de temas como a educação, a saúde, a cultura - como no
plano das relações internacionais.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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