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CARLOS HEITOR CONY
Fome Cinco
RIO DE JANEIRO - Cinco meses completados ontem e o governo de Lula
ainda está longe de deslanchar. Evidente que não se deve cobrar tudo, as
grandes reformas prometidas durante a campanha, não apenas na última, mas nas anteriores.
O único movimento que até agora
tentou ser articulado, e para isso foram convocados a sociedade e os
marqueteiros de praxe, foi o Fome
Zero, que acaba de receber de um ministro de Estado, Ciro Gomes, uma
advertência já feita pelos chamados
"eternos descontentes", entre os quais
contentemente me incluo.
No governo anterior, foi também de
um ministro a crítica mais truculenta
ao movimento de solidariedade de
dona Ruth Cardoso, que o consorte
não quis absorver como ação de governo, no que agiu corretamente.
O Fome Zero não tem nada a ver
com a atual primeira-dama, mas
com o atual primeiro-damo -se é
que o masculino de dama é damo, e
não cavalheiro, como se lê na porta
dos banheiros públicos.
Faça-se, porém, uma distinção bem
nítida: Lula pretende vender a idéia
ao G8 -e aí, sim, ele está no seu papel de cidadão preocupado com uma
das misérias da vida moderna, a fome que mata milhões de pessoas em
todo o mundo.
Lá ele não será um executivo, mas
um simples palpiteiro, credenciado, é
certo, pelo límpido mandato de presidente de uma nação e com o seu passado de heróica liderança em reivindicações sociais.
O furo do Fome Zero é que ele se
confundiu com ação de governo e, tirando os noves fora, a caridade -como disse Ciro Gomes- não é atribuição do Estado, mas da sociedade,
das organizações pias. O governo pode e deve colaborar com a sociedade
em mutirões de solidariedade, mas
sua obrigação básica é gerir o Estado,
substantivamente, criando condições
estruturais para que um problema de
tal dramaticidade seja solucionado
de forma articulada e permanente.
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