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São Paulo, segunda-feira, 02 de junho de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Fome Cinco

RIO DE JANEIRO - Cinco meses completados ontem e o governo de Lula ainda está longe de deslanchar. Evidente que não se deve cobrar tudo, as grandes reformas prometidas durante a campanha, não apenas na última, mas nas anteriores.
O único movimento que até agora tentou ser articulado, e para isso foram convocados a sociedade e os marqueteiros de praxe, foi o Fome Zero, que acaba de receber de um ministro de Estado, Ciro Gomes, uma advertência já feita pelos chamados "eternos descontentes", entre os quais contentemente me incluo.
No governo anterior, foi também de um ministro a crítica mais truculenta ao movimento de solidariedade de dona Ruth Cardoso, que o consorte não quis absorver como ação de governo, no que agiu corretamente.
O Fome Zero não tem nada a ver com a atual primeira-dama, mas com o atual primeiro-damo -se é que o masculino de dama é damo, e não cavalheiro, como se lê na porta dos banheiros públicos.
Faça-se, porém, uma distinção bem nítida: Lula pretende vender a idéia ao G8 -e aí, sim, ele está no seu papel de cidadão preocupado com uma das misérias da vida moderna, a fome que mata milhões de pessoas em todo o mundo.
Lá ele não será um executivo, mas um simples palpiteiro, credenciado, é certo, pelo límpido mandato de presidente de uma nação e com o seu passado de heróica liderança em reivindicações sociais.
O furo do Fome Zero é que ele se confundiu com ação de governo e, tirando os noves fora, a caridade -como disse Ciro Gomes- não é atribuição do Estado, mas da sociedade, das organizações pias. O governo pode e deve colaborar com a sociedade em mutirões de solidariedade, mas sua obrigação básica é gerir o Estado, substantivamente, criando condições estruturais para que um problema de tal dramaticidade seja solucionado de forma articulada e permanente.


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