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DEBATE RESTRITO
Há uma predominância de
questões econômicas no debate público. O país angustia-se
mensalmente com as reuniões do
Banco Central para definir o patamar
da taxa básica de juros. Discutem-se
a autonomia do BC, a relação dívida-PIB e a necessidade ou não de reformular as metas de inflação.
São temas evidentemente relevantes dada a óbvia importância do crescimento num país com as carências
do Brasil, que tem convivido nos últimos anos com um ritmo descontínuo e tímido de expansão econômica, com elevados índices de desemprego e deterioração social. Os limites em que o debate transcorre, no
entanto, são estreitos.
Há como um acordo tácito de que
não é possível aspirar a vôos mais altos. A margem de manobra para as
políticas públicas é exígua e há até os
que se regozijam com os constrangimentos externos, pois são de tal ordem e de tal monta que inibem propostas de mudanças. Melhor, segundo alguns, que o governo não se
preocupe em delinear projetos de desenvolvimento e de inserção internacional mais arrojada, pois idéias dessa natureza teriam, além de tudo, ficado irremediavelmente obsoletas,
trazendo em si o vírus do populismo,
do estatismo e do atraso.
O colapso do modelo de desenvolvimento calcado na iniciativa do Estado e o subseqüente triunfo da
agenda liberalizante ainda é um divisor de águas, em que pesem os resultados pouco animadores alcançados
pelas políticas sugeridas pelo FMI e o
Banco Mundial na maior parte da
América Latina. A polarização de posições entre essas vertentes, lamentavelmente, não tem sido especialmente esclarecedora. Cristalizam-se convicções que procuram negar uma as
virtudes da outra e ocultar seus próprios defeitos.
Não há dúvida de que a experiência
liberal, com todos os problemas,
trouxe notáveis avanços, como a estabilização da moeda e a correção de
distorções herdadas do período de
economia fechada. É inegável, todavia, que os mercados por si só não se
mostram capazes de coordenar o
crescimento. A construção de um capitalismo moderno no Brasil, que valorize a livre-iniciativa, atraia investimentos e, ao mesmo tempo, se revele capaz de reduzir as imensas desigualdades socioeconômicas, dificilmente poderá prescindir do ativismo
governamental. Não se trata de ressuscitar o Estado-empresário, cuja
ineficiência já foi demonstrada, mas
de recuperar o Estado que planeja e
procura coordenar ações com uma
visão identificável de futuro.
Em sua recente passagem pelo México, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva queixou-se de que os países latino-americanos fizeram a lição de casa, mas não colheram os frutos prometidos. É uma constatação, no entanto, apenas retórica, que não tem
encontrado contrapartida na formulação das políticas internas. Há uma
compreensível insegurança quanto
ao tema da mudança: afinal, o que é
possível efetivamente mudar? Qual o
preço a ser pago? Politicamente, valeria a pena correr o risco de contrariar
preceitos estabelecidos?
A resposta até aqui oferecida a essas questões pelo governo Lula tem
sido gerenciar o dia-a-dia da economia com prudência, dentro dos padrões herdados da administração
anterior. Crescer pouco é melhor do
que não crescer, administrar a crise é
melhor do que deixá-la explodir.
Não há dúvida quanto a isso, contudo parece faltar não apenas ao governo, mas ao debate nacional, uma
perspectiva estratégica, uma visão de
longo prazo dos caminhos a serem
trilhados pelo país.
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