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MAIS UM MOTIM
A rebelião na casa de custódia
de Benfica, no Rio de Janeiro,
não pode ser considerada uma surpresa. Apesar das dezenas de mortos
e da barbárie que o caracterizaram, o
motim no presídio carioca é apenas
mais um episódio da deterioração do
sistema prisional brasileiro e do
preocupante aumento da violência
urbana no país.
Ainda há pouco, a sociedade assistiu ao dramático sítio da favela carioca da Rocinha, em meio a disputa entre bandos rivais de traficantes, e ao
sangrento motim na casa de detenção José Mário Alves, em Rondônia,
também conhecida como Urso
Branco. Episódios alarmantes como
esses compõem um cenário de crise
que tem múltiplas facetas e causas.
O aumento da violência e a falência
do sistema carcerário não podem ser
dissociados da ascensão do crime organizado e do narcotráfico. Organizações como essas, por sua vez, beneficiam-se da atuação ineficiente de
forças policiais, em geral desaparelhadas, despreparadas, mal pagas e
-em muitos casos- contaminadas
pela corrupção.
Esse quadro nefasto não estaria
completo sem menção à morosidade
da Justiça, que, devido à própria legislação, acaba muitas vezes por
condenar infratores à reclusão por
delitos passíveis de penas alternativas, contribuindo para a superlotação dos presídios. São problemas
para os quais a reforma do Poder Judiciário, atualmente em discussão
no Congresso Nacional, poderia trazer ao menos soluções parciais.
Diante da complexidade do cenário, é forçoso concordar com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, quando ele afirma que "soluções mágicas" não resolverão a crise
da segurança pública. Contudo isso
não exime o poder público de suas
responsabilidades. No caso específico do sistema prisional, o governo
federal continua devendo a implementação das medidas propostas no
plano de segurança publica do PT divulgado por ocasião da campanha
presidencial de 2002. Dos cinco novos presídios prometidos no início
do ano passado, nenhum foi concluído, sendo que apenas um edital
para construção foi publicado.
O caldo de cultura da violência é a
prolongada crise socioeconômica.
Ninguém duvida de que a falta de
perspectiva decorrente do desemprego, a precariedade do sistema educacional público e as profundas desigualdades sociais contribuem para a
escalada do crime. É evidente que o
combate à criminalidade e à violência exige ações específicas e coordenadas entre as diversas esferas do poder público, mas só será bem-sucedido se for acompanhado pelo enfrentamento de suas causas sociais.
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