São Paulo, terça-feira, 02 de julho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Pirataria autoral

RIO DE JANEIRO - Rolou no Congresso um projeto de boas intenções, mas de difícil execução. Pretende combater a pirataria de discos, quadros, cds, livros e outras expressões de autoria intelectual e artística.
Não posso dar nenhum testemunho sobre quadros, discos, cds. Não é praia minha. Mas tenho mais de 40 anos de vivência profissional com os livros, trabalhei e ainda trabalho com diversas editoras e, honestamente, não faço parte dos que reclamam habitualmente da exploração e da truculência dos editores.
Pela experiência própria e pelo conhecimento que acumulei na lide literária, não conheço casos dramáticos de roubo ou de má-fé. O editor que rouba o autor está roubando a si mesmo -o que não faz sentido. Ou o livro encalha e rende pouco para autor ou editor, ou vende muito e aí os dois lavam a égua.
O que há -e falo somente em relação ao livro, mercadoria da qual também vivo- é uma superavaliação do autor sobre a vendagem de sua obra. É possível que em alguns casos ocorram erros de contabilidade, mas os contratos assinados entre editora e autor garantem uma auditoria. São exceções, geralmente involuntárias, causadas pela deficiência operacional de editoras não de todo profissionalizadas.
Respeito a mágoa de autores que, após o lançamento de sua obra, reclamam da distribuição e da exposição dos livros, culpando as editoras pelo descaso com que são tratados.
A má distribuição e nenhuma exposição dos livros afeta profundamente a venda do produto, mas os editores, por mais que lutem pelo melhor e maior espaço nas livrarias, não têm ingerência nessa fase da comercialização.
No início de minha carreira, na Civilização Brasileira, todos os meus livros eram numerados. Agora não. Mas, sinceramente, nunca me senti roubado. O que é do homem o bicho não come.


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