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CARLOS HEITOR CONY
Pirataria autoral
RIO DE JANEIRO - Rolou no Congresso um projeto de boas intenções, mas
de difícil execução. Pretende combater a pirataria de discos, quadros, cds,
livros e outras expressões de autoria
intelectual e artística.
Não posso dar nenhum testemunho
sobre quadros, discos, cds. Não é
praia minha. Mas tenho mais de 40
anos de vivência profissional com os
livros, trabalhei e ainda trabalho
com diversas editoras e, honestamente, não faço parte dos que reclamam
habitualmente da exploração e da
truculência dos editores.
Pela experiência própria e pelo conhecimento que acumulei na lide literária, não conheço casos dramáticos de roubo ou de má-fé. O editor
que rouba o autor está roubando a si
mesmo -o que não faz sentido. Ou o
livro encalha e rende pouco para autor ou editor, ou vende muito e aí os
dois lavam a égua.
O que há -e falo somente em relação ao livro, mercadoria da qual
também vivo- é uma superavaliação do autor sobre a vendagem de
sua obra. É possível que em alguns
casos ocorram erros de contabilidade, mas os contratos assinados entre
editora e autor garantem uma auditoria. São exceções, geralmente involuntárias, causadas pela deficiência
operacional de editoras não de todo
profissionalizadas.
Respeito a mágoa de autores que,
após o lançamento de sua obra, reclamam da distribuição e da exposição dos livros, culpando as editoras
pelo descaso com que são tratados.
A má distribuição e nenhuma exposição dos livros afeta profundamente a venda do produto, mas os
editores, por mais que lutem pelo melhor e maior espaço nas livrarias, não
têm ingerência nessa fase da comercialização.
No início de minha carreira, na Civilização Brasileira, todos os meus livros eram numerados. Agora não.
Mas, sinceramente, nunca me senti
roubado. O que é do homem o bicho
não come.
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