|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RENATA LO PRETE
Marta e os
visitadores
Com o bombardeio do horário
gratuito ainda duas semanas distante, o armamento da hora na sucessão paulistana são os visitadores contratados pela campanha de Marta Suplicy para vender a administração
municipal de porta em porta. O cenário de disputa renhida levou o PT a
concluir que não bastarão TV, rádio e
rua. Será necessário buscar o eleitor
dentro de casa.
A novidade não é a abordagem domiciliar, mas sua profissionalização. O
visitador recrutado pelos petistas recebe treinamento e remuneração
mensal em torno de R$ 500. Segue roteiro preestabelecido de perguntas. A
depender da intenção de voto declarada, oferece material de propaganda
para potencializar o efeito divulgador.
Há relatos de entrevistados que, tendo listado ao visitador suas principais
preocupações, receberam dias depois
uma carta informando o que a Prefeitura de São Paulo estaria fazendo nas
respectivas áreas. A mensagem "customizada" atende ao mais singelo
princípio das transações comerciais:
convencer o comprador de que se tem
o que ele precisa.
Seriam cerca de 4.000 os visitadores
de Marta, cada um encarregado de, no
mínimo, 25 portas por dia. Basta multiplicar um número pelo outro para
ter uma idéia da capilaridade censitária da operação.
"Televisão é força aérea, mas sem infantaria não se ganha a guerra", resume um experimentado homem de
campanhas na tentativa de ilustrar o
papel do arrastão petista -ou do
"mutirão" tucano, mais primitivo.
Inovadora para os padrões locais, a
iniciativa do PT guarda semelhança
com programa adotado pela campanha reeleitoral de George W. Bush. Lá,
no entanto, já se oferecem bônus aos
visitadores que demonstrem excelência em metas como recrutamento de
novos soldados, telefonemas a programas populares de rádio e manifestos pró-candidato publicados nas seções de cartas dos jornais.
Nos EUA, o porta-a-porta sempre
foi marca registrada do Partido Democrata. Invariavelmente mais ricos,
os republicanos costumavam centrar
recursos nos dispendiosos spots de
TV (não existe horário gratuito).
A equipe de Bush, porém, convenceu-se de que não teria passado sufoco
-ou perdido a eleição presidencial,
como se queira- em 2000 caso suas
forças terrestres fossem mais presentes nos chamados "swing States", onde não há dominação clara de nenhum dos dois partidos. Neste ano,
elas estão em campo desde abril.
Em São Paulo, o advento dos visitadores remunerados tem provocado
algum saudosismo em relação aos antigos militantes petistas que, munidos
apenas de estrela vermelha e entusiasmo, conquistavam votos atribuindo
ao governante de turno toda a injustiça deste mundo.
Como no caso dos que aguardam a
"guinada" do governo Lula, a choradeira será em vão. Se há algo que o PT
aprendeu a fazer é arrecadar dinheiro
e organizar campanhas. Não iria recuar no tempo e fazê-las de forma
amadora agora que está com a arca
cheia. É o casamento da cultura do
aparelho com o rigor metódico das pirâmides de vendas.
Renata Lo Prete é editora do "Painel"
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O colchão do governo Próximo Texto: Frases
Índice
|