São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

O colchão do governo

RIO DE JANEIRO - "A execução orçamentária de 44 programas tidos como prioritários ficou abaixo de 1% no primeiro semestre." Transcrevo o final de uma chamada da Primeira Página da Folha, edição de anteontem.
E a explicação para economia tão violenta: "A contenção de gastos se deu, em grande medida, pela não-liberação de verbas para investimentos federais. O governo usou até junho apenas 5,7% do total autorizado para o ano".
É fácil explicar a paralisia do atual governo, que gasta todas as suas energias no conceitual, ensinando à nação como se deve governar, mas não fazendo nada, a não ser aumentando a arrecadação e diminuindo a despesa, numa poupança que, a esta altura do ano, torna-se suspeita.
Evidente que por trás de tudo há o FMI, cuja auditoria o governo não se sabe se pediu mas que aceita com orgulho e vaidade. Contudo, há também a suposição de que o dinheiro economizado a custa do marasmo governamental esteja formando uma caixinha especial para ser gasta no momento devido, ou seja, quando for colocada em pauta a candidatura de Lula para a reeleição. Aí haverá dinheiro farto para lubrificar a máquina eleitoral, liberando-se verbas para os aliados e criando-se outras, emergenciais, que garantam a maioria necessária para mais um mandato da atual equipe dirigente.
A prevalecer essa economia de gastos, no final do ano o governo terá usado apenas 2% das verbas autorizadas para os 44 programas tidos como prioritários. Lembro, a propósito, a luta do ex-ministro da Educação pelas verbas que nunca eram liberadas, luta que lhe valeu a demissão por telefone. E não se tratava de um adversário ideológico nem de um aliado oportunista, mas de um petista histórico que continua fiel ao partido.
Gastar demais, em obras necessárias, pode ser um mal, mas não gastar nada para guardar no colchão da politicalha eleitoral é pior para o país.



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