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CARLOS HEITOR CONY
O colchão do governo
RIO DE JANEIRO - "A execução orçamentária de 44 programas tidos como prioritários ficou abaixo de 1%
no primeiro semestre." Transcrevo o
final de uma chamada da Primeira
Página da Folha, edição de anteontem.
E a explicação para economia tão
violenta: "A contenção de gastos se
deu, em grande medida, pela não-liberação de verbas para investimentos federais. O governo usou até junho apenas 5,7% do total autorizado
para o ano".
É fácil explicar a paralisia do atual
governo, que gasta todas as suas
energias no conceitual, ensinando à
nação como se deve governar, mas
não fazendo nada, a não ser aumentando a arrecadação e diminuindo a
despesa, numa poupança que, a esta
altura do ano, torna-se suspeita.
Evidente que por trás de tudo há o
FMI, cuja auditoria o governo não se
sabe se pediu mas que aceita com orgulho e vaidade. Contudo, há também a suposição de que o dinheiro
economizado a custa do marasmo
governamental esteja formando
uma caixinha especial para ser gasta
no momento devido, ou seja, quando
for colocada em pauta a candidatura
de Lula para a reeleição. Aí haverá
dinheiro farto para lubrificar a máquina eleitoral, liberando-se verbas
para os aliados e criando-se outras,
emergenciais, que garantam a maioria necessária para mais um mandato da atual equipe dirigente.
A prevalecer essa economia de gastos, no final do ano o governo terá
usado apenas 2% das verbas autorizadas para os 44 programas tidos como prioritários. Lembro, a propósito,
a luta do ex-ministro da Educação
pelas verbas que nunca eram liberadas, luta que lhe valeu a demissão
por telefone. E não se tratava de um
adversário ideológico nem de um
aliado oportunista, mas de um petista histórico que continua fiel ao partido.
Gastar demais, em obras necessárias, pode ser um mal, mas não gastar nada para guardar no colchão da
politicalha eleitoral é pior para o
país.
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