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TENDÊNCIAS/DEBATES
Homossexualismo: novos enfoques
AMAURY CASTANHO
O sr. João Silvério Trevisan retornou, no último dia 28, à seção
"Tendências/Debates" da Folha, provando que não deve ter lido o artigo
"Sobre o homossexualismo", escrito e
assinado por mim, publicado também
na Folha (5/7, pág. A3). Se leu, não entendeu ou se faz de desentendido, pois
volta a dar mostras de seu radical e virulento anticlericalismo, com asserções
subjetivas e injustas contra a Igreja Católica.
Torno a insistir em que o posicionamento da minha igreja coincide com o
das várias igrejas ortodoxas, das mais
diversas igrejas protestantes e até mesmo com a doutrina de grupos não cristãos, como os muçulmanos, os judeus e
outros. Todos nós estamos fundamentados em fortes razões que se firmam na
dignidade humana e no respeito à natureza do homem e da mulher. Motivos
estritamente religiosos, vétero e neotestamentários, de nossa fé, que aceita a revelação divina, vêm se somar às razões
da antropologia, da biologia, da psicologia e de outras ciências.
Desconhecendo os documentos do
Concílio Ecumênico Vaticano 2º, convocado e iniciado pelo papa João 23,
continuado e encerrado, em 1965, pelo
papa Paulo 6º, Trevisan ousa dizer que o
atual romano pontífice vem "desmontando" a grande e maior assembléia do
episcopado católico dos 20 séculos da
história da igreja.
É uma prova de que pode ter lido o ex-franciscano Leonardo Boff, ao qual se
refere elogiosamente, mas, com certeza,
ignora a constituição pastoral "Gaudium et Spes" ("Alegria e Esperança"),
do referido concílio, que recomenda o
respeito para com o homem, de maneira que cada um deve considerar o próximo, sem exceção, como ""outro eu" (...)
sendo infame tudo que se oponha à vida, como toda espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário, tudo que viole a integridade da
pessoa humana (...) que ofende a dignidade da pessoa, como as condições de
vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a
prostituição, o comércio de mulheres e
de homens (...) Todas essas coisas e outras semelhantes (como o homossexualismo), ao mesmo tempo que corrompem a civilização humana, desonrando
mais aqueles que assim procedem do
que os que injustamente padecem,
ofendendo gravemente a honra devida
ao Criador" (Cfr nº 27).
As referências feitas por Trevisan a
documentos papais, de sagradas congregações da Cúria Romana e do Pontifício Conselho da Família, mais recentes, são distorcidas e tiradas do seu devido contexto. Ele omite, por exemplo, o
que se refere ao homossexualismo e aos
homossexuais no Novo Catecismo da
Igreja, oficial, em que se lê: "A homossexualidade (...) tem a sua gênese psíquica
ainda inexplicada. A tradição da igreja
sempre declarou os atos de homossexualidade intrinsecamente desordenados e contrários à ordem natural, fechando o ato sexual ao dom da vida, à
verdadeira complementaridade afetiva
e sexual (...) Para a maioria, a condição
homossexual constitui uma provação.
Devem ser acolhidos com respeito,
compaixão e delicadeza" (nº 2.357 e
2.358).
A igreja está consciente
da distinção clara entre tendência e comportamento homossexual
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Esses dois documentos sobrepõem-se
aos demais, provando que a igreja, "perita em humanidade" (Paulo 6º), está
consciente da distinção clara entre tendência e comportamento homossexual.
Ela e seus pastores sabem do drama e
dos sofrimentos de muitos homossexuais, exortando esses seus filhos ao respeito entre si mesmos e à superação
possível de uma conduta homossexual.
Em meu longo serviço de presbítero e
bispo, posso atestar, convivendo com os
sacerdotes nas arquidioceses de Campinas, São Paulo e Sorocaba, nas dioceses
de Valença e Jundiaí, que são minoria os
padres infiéis aos seus compromissos
de castidade. Bem menos, lamentavelmente, do que o número de maridos infiéis e adúlteros, agressores, na intimidade de tantos lares, das próprias filhas
ou enteadas. Apesar do contratestemunho de alguns, a Igreja Católica, em todas as pesquisas de opinião, é tida como
a instituição de maior credibilidade.
Honestamente, não consigo compreender a injuriosa acusação de que a
"instituição católica é incapaz de compreender a extraordinária experiência
humana (sic) que é o amor em suas diversificadas expressões". Recordo ao
articulista que, desde tempos anteriores
a Cristo, sempre foi feita uma clara distinção entre amor ("agapé") e paixão
("eros"). Parece que Trevisan imagina
que os homossexuais e lésbicas vivam
de sorrisos, quando na verdade dão asas
aos prazeres da carne, tendo-os como
fins. Aos que têm o sexo como fim, e
não como meio, tudo é permitido...
Para finalizar, não dá para compreender que "a igreja use o nome de Deus
para ganhar poder, com isso atropelando a mensagem evangélica do amor". É
evidente que, se a igreja procurasse o
poder, há muito estaria coonestando a
promiscuidade sexual e a poligamia, o
divórcio e o aborto, o adultério e o homossexualismo, expressões da cultura
hedonista e de morte, característica dos
nossos tempos. Ai de nós e do mundo
quando a igreja entrasse pelo caminho
do "vale tudo".
Dom Amaury Castanho, 76, jornalista, licenciado em filosofia e teologia pela Pontifícia Universidade Católica Gregoriana de Roma, é bispo
emérito de Jundiaí (SP). É autor de, entre outros
livros, "A Serviço do Evangelho, do Reino de
Deus e dos Homens".
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