São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Dinheiro em caixa
"A economia recorde obtida pelo país no primeiro semestre deste ano, segundo informa este jornal, foi causada principalmente pela retenção de verbas de projetos que o próprio governo considerou prioritários. Afinal, o que importam o analfabetismo, o desemprego e a miséria de milhões de brasileiros, o caos na saúde, a malha viária em frangalhos, se o FMI está satisfeitíssimo, o avião presidencial está sendo pago e os petistas nomeados para funções de confiança estão recebendo em dia os seus salários?"
Odilon O. Santos (Marília, SP)

Mostrando resultados
"O governo Lula conseguiu, depois de um primeiro ano muito difícil, em que foi obrigado a combater a herança maldita do governo FHC (inflação anual de 40%, Mercosul enfraquecido, déficit em transações correntes, real fraco, risco-país na estratosfera, falta de crédito no mercado internacional, taxa básica de juros de 25% ao ano), promover a retomada do crescimento da economia, com geração de empregos, rápido aumento das exportações, aumento do superávit comercial e obtenção de crescentes superávits em conta corrente. Agora, é preciso trabalhar para manter tal trajetória, promovendo a redução da taxa de juros de longo prazo, investindo na ampliação da capacidade produtiva nacional, recuperando a infra-estrutura e incentivando a poupança interna."
Marcos Doniseti Vicente (Salto, SP)

Terror
"No último dia 28, soubemos -sem grande destaque por parte da imprensa- que um atentado suicida, no Iraque, matou 70 pessoas. No mesmo dia, mais gente perdeu a vida em outros atentados, chegando a mais de uma centena o número de mortos naquele país. Não tenho visto a mesma manifestação de solidariedade e indignação, por parte da imprensa e das pessoas, que constatei quando aconteceu, por exemplo, o atentado em Madri. Daquela vez, os jornais abordaram o tema durante semanas. Houve inúmeras manifestações de solidariedade, no Brasil inclusive. Será que algumas pessoas sentem menos dor que outras? Será que somos, antes de qualquer outra coisa, ocidentais? Por que um atentado na Espanha é tão chocante e no Iraque não o é? O mesmo não estará acontecendo em nossa própria cidade, quando desprezamos as muitas notícias sobre crimes e chacinas na periferia e só nos sentimos indignados quando pessoas das classes média e alta são vítimas da violência?"
João Luiz Muzinatti (São Paulo, SP)

Retrocesso
"Toda vez que as mulheres conquistam espaço e poder em suas lutas por mais autonomia, o Vaticano vem a público, anacronicamente, recomendar que se contentem com o lugar reservado historicamente a elas, pelo corolário injusto do cristianismo, regido por eles, os homens do vaticano. Com a publicação do documento "Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a Colaboração do Homem e da Mulher na Igreja e no Mundo", no qual condena o feminismo, a igreja mais uma vez revela todo o seu conservadorismo e autoritarismo preconceituoso. Quem pode levar a sério recomendação tão bizarra e atrasada de retorno ao isolamento, à angústia, violência e injustiça? A igreja parece esquecer que a história quase sempre nos aponta um caminho à frente."
Maria da Paz Cintra (Brasília, DF)

Exame de ordem
"A respeito da coluna "Tendências/Debates" de 31/7 ("Os médicos recém-formados devem passar por um exame de ordem ou similar?", pág. A3), acredito que um exame para os médicos recém-formados seja uma boa solução. Enquanto não houver uma política que priorize a qualidade, estaremos formando contingentes enormes de médicos despreparados para salvar vidas. Depois de passarem por um vestibular difícil e se dedicarem durante anos na faculdade, acho que não teriam problema nenhum em realizar um exame. Estudantes de direito também passam por um vestibular difícil e se dedicam durante anos na faculdade -e ainda assim fazem exame para entrar na OAB. De imediato, seria a solução para saber se colocamos no mercado "salva-vidas" ou "tira-vidas"."
Aline Carla Ghizzi (Presidente Bernardes, SP)


"Bastante importante o posicionamento crítico de Giovanni Guido Cerri, publicado na Folha de 31/07, sobre os exames para avaliação dos médicos formados ("Tendências/Debates", pág. A3). Esse tipo de exame significa descompromisso do Estado com a qualidade da formação. Já não vivemos mais esses tempos! Devemos, sim, querer que o MEC esteja à frente da enorme batalha que devemos travar pela melhoria da qualidade de nossas escolas superiores. Essa tem sido a posição dos conselhos de psicologia no Brasil."
Ana Mercês Bahia Bock, presidente licenciada do Conselho de Psicologia de São Paulo (São Paulo, SP)

Desarmamento
"A campanha de desarmamento funcionaria se recolhesse as armas dos bandidos. São Paulo já recolheu 2.686 armas das aproximadamente 3 milhões existentes no Estado. Será que podemos chamar isso de significativo? Quando se diz que tirar armas de circulação é uma maneira lúcida de combater a violência, tem-se a impressão de que o problema restringe-se às armas dos cidadãos honestos, quando, na verdade, o problema tem quase só a ver com as armas dos marginais. Tragédia em família ocorre somente por descuido e, mesmo assim, só muito esporadicamente. Homicídios entre amigos acontecem, na maioria das vezes, com portador ilegal de arma. Para obter o porte há sérias restrições, e só o consegue quem tem necessidade, não tem passagem pela polícia e tem juízo. Confunde-se porte de arma com arma registrada. Defender a família, em casa, é um direito -e sobretudo um dever- do cidadão de bem. Só entrega arma quem está passando muita necessidade e precisa do dinheiro."
Conrado de Paulo (Bragança Paulista, SP)

Educação e cultura
"A reportagem "Escola pública boa deve começar em casa" (Cotidiano, 1º/8, pág. C3) mostrou que o baixo nível cultural de nossa juventude, em todos os estratos sociais, deve-se a que muitas famílias não fazem de seus lares ambientes propícios a que viceje a cultura. O mundo mudou muito durante a última década, e continua mudando em velocidade assustadora. Tenho uma neta de três anos que navega pela internet, aciona o aparelho de DVD e já está praticamente alfabetizada por minha filha mais velha (22 anos), que, por sua vez, fiz gostar de literatura, teatro, cinema etc. desde as fraldas. No entanto oferecer os bens culturais que ofereci a meus quatro filhos não é apenas decisão de uma família. Livros, viagens e programas culturais, como teatro ou cinema, ou mesmo pais que são capazes de transmitir cultura a seus filhos, tudo isso é caro. E o Brasil é um país de pobres."
Eduardo Guimarães (São Paulo, SP)

Estradas
"Radares, equipes de socorro, Operação Verão, Inverno, Outono etc.: tudo isso é balela. Quem quer mesmo reduzir os índices de acidentes rodoviários ataca a raiz do problema, excesso de caminhões. A quem interessa um país que queima divisas com transporte rodoviário de cargas, modalidade muito mais perigosa e cara do que o transporte ferroviário ou fluvial? Os acidentes mais perigosos envolvem caminhões, não raro conduzidos por indivíduos inexperientes, irresponsáveis ou incapazes. Ainda que todos os caminhoneiros fossem motoristas responsáveis, a quantidade absurda de caminhões trafegando já representaria um risco. Não se reduz a violência nas estradas sem atenção a esse problema. Chega de hipocrisia!"
Alfredo Luiz Paes de Oliveira Suppia (Sumaré, SP)


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