São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

Lineu e o mensalão

RIO DE JANEIRO - Alguns leitores reclamaram de crônica publicada neste espaço, quando afirmei e reafirmei que a maioria da população brasileira, ao contrário do que a mídia e os políticos estão dizendo por aí, não está escandalizada e muito menos ligada aos escândalos que provocaram a crise nacional mais importante dos últimos anos.
No seu último boletim, divulgado domingo passado, o IVC (Instituto Verificador de Circulação), que funciona oficiosamente como termômetro da venda avulsa dos órgãos da imprensa escrita, revelou que o mensalão (e muito menos o estouro nos Correios) não aumentou a circulação dos principais jornais do país, apelidados de "jornalões".
Dois deles, a Folha e o "Jornal do Brasil", tiveram ligeiro aumento de circulação, 0,4% para o primeiro, 0,6% para o segundo. Os outros dois tiveram venda reduzida, "O Globo" com -0,3% e o "Estadão" com -0,2%.
A amostragem nada tem a ver com a qualidade ou quantidade de espaço dedicada pelos jornalões ao assunto. Uns pelos outros, são as mesmas. O assunto é que não colou, a não ser nas classes A e B, que formam aquilo que a mídia chama, enfaticamente, de "sociedade". Valérios, Delúbios, Sílvios et caterva não tiveram até agora a empatia que se verificou, por exemplo, naquela novela da qual nem guardei o nome, mas que tinha como trama final saber quem tinha matado um dos personagens, chamado Lineu, aliás interpretado pelo meu velho e querido amigo Hugo Carvana.
Faço -ou melhor, repito- esse comentário para demonstrar mais uma vez que nada entendo de mídia e sobretudo de política. Não tenho culpa de ter desconfiado da horizontalidade das denúncias, investigações e de toda a papelada que jamais será examinada integralmente. E de estranhar a ausência da verticalidade, que poderia levar o escândalo da planície para o planalto.
Tampouco entendo de novela. Até hoje não sei nem quero saber quem matou Lineu.


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