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CARLOS HEITOR CONY
Lineu e o mensalão
RIO DE JANEIRO - Alguns leitores reclamaram de crônica publicada neste espaço, quando afirmei e reafirmei
que a maioria da população brasileira, ao contrário do que a mídia e os
políticos estão dizendo por aí, não está escandalizada e muito menos ligada aos escândalos que provocaram a
crise nacional mais importante dos
últimos anos.
No seu último boletim, divulgado
domingo passado, o IVC (Instituto
Verificador de Circulação), que funciona oficiosamente como termômetro da venda avulsa dos órgãos da
imprensa escrita, revelou que o mensalão (e muito menos o estouro nos
Correios) não aumentou a circulação
dos principais jornais do país, apelidados de "jornalões".
Dois deles, a Folha e o "Jornal do
Brasil", tiveram ligeiro aumento de
circulação, 0,4% para o primeiro,
0,6% para o segundo. Os outros dois
tiveram venda reduzida, "O Globo"
com -0,3% e o "Estadão" com -0,2%.
A amostragem nada tem a ver com
a qualidade ou quantidade de espaço
dedicada pelos jornalões ao assunto.
Uns pelos outros, são as mesmas. O
assunto é que não colou, a não ser
nas classes A e B, que formam aquilo
que a mídia chama, enfaticamente,
de "sociedade". Valérios, Delúbios,
Sílvios et caterva não tiveram até
agora a empatia que se verificou, por
exemplo, naquela novela da qual
nem guardei o nome, mas que tinha
como trama final saber quem tinha
matado um dos personagens, chamado Lineu, aliás interpretado pelo meu
velho e querido amigo Hugo Carvana.
Faço -ou melhor, repito- esse comentário para demonstrar mais
uma vez que nada entendo de mídia
e sobretudo de política. Não tenho
culpa de ter desconfiado da horizontalidade das denúncias, investigações
e de toda a papelada que jamais será
examinada integralmente. E de estranhar a ausência da verticalidade,
que poderia levar o escândalo da planície para o planalto.
Tampouco entendo de novela. Até
hoje não sei nem quero saber quem
matou Lineu.
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