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CARLOS HEITOR CONY
Tão Brasil
RIO DE JANEIRO - Falar mal do programa eleitoral gratuito é um lugar-comum. Sou talvez o único que admira esse desfile de candidatos a prefeito e a vereador. Aprendo muito
com eles e muito me edifico com as
soluções que apresentam para os problemas que afligem nossas comunidades.
Uns pelos outros, não vejo diferença
entre os desconhecidos e os conhecidos. E entre todos eles e os governantes principais do país, que têm em comum com os candidatos a vereador a
mesma capacidade de atribuir a culpa das desditas públicas aos outros.
Como não acreditar no sujeito que
denunciou a falta de algodão e gaze
num hospital da Baixada Fluminense? E o economista desempregado
que revelou o lamentável estado das
finanças municipais de Itaperuna?
Pelo Brasil afora, o descalabro é geral, mas nada que se compare à cara-de-pau dos ministros e do presidente
da República, que, mesmo sem serem
candidatos a vereador ou a prefeito,
botam a culpa das mazelas públicas
nas costas dos adversários.
Após o escândalo do esquema EJ, o
governo como um todo começou a falar em transparência e em mãos limpas. O tom moralista vai além do ridículo. Afinal, de quem são as mãos
sujas que metem a mão no bolso da
gente?
Seguramente, não são as do candidato 47.565, que pretende a vereança
num município da bacia hidrográfica formada pelo rio Meriti. Ele descobriu que a mulher de um prefeito
comprou uma Kombi com o dinheiro
da merenda escolar. Por causa disso,
foi demitido de um cargo e se diz
ameaçado de morte.
Tão Brasil! Estou solidário com ele.
Ouço com atenção e até mesmo com
alguma emoção a voz desse Brasil
obscuro que repete em escala microscópica o Brasil que conhecemos e lamentamos.
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