São Paulo, sábado, 02 de setembro de 2000


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FERNANDO RODRIGUES

Cinismo

BRASÍLIA - É complexo o balanço da cúpula dos 12 presidentes da América do Sul. Há aspectos positivos. O fato de a reunião ter existido, por exemplo. Mas deixo a apologia do encontro para os esportistas da área.
A mim chamou a atenção o horrendo texto de 14 páginas, quase incompreensível, do "Comunicado de Brasília". Não bastasse a ilegibilidade, há trechos com forte teor de cinismo.
Eis alguns exemplos:
1) "É indispensável (...) contribuir para a modernização e o fortalecimento dos partidos políticos".
O que fez o governo FHC nessa direção? O que está fazendo? Nada.
Na realidade, contribuiu para a manutenção de alguns moluscos partidários que habitam o Congresso. Basta lembrar da compra de votos a favor da reeleição.
Na Argentina, aliás, escândalo semelhante está em curso. É bom citar para melhorar um pouco a auto-estima do brasileiro. Afinal, a corrupção política não existe apenas aqui;
2) "É indispensável (...) garantir a manutenção de processos eleitorais livres, periódicos, transparentes, justos e pluralistas".
O que dizer do Peru e de seu presidente eterno Fujimori? E da posição leniente do Brasil a respeito da última eleição suspeita no país vizinho?
São perguntas irrespondíveis para quem assina um documento como o "Comunicado de Brasília". Fujimori e FHC são signatários;
3) "Os presidentes (...) destacaram a necessidade de garantir o direito a uma vida digna como direito inalienável da pessoa".
Esse trecho dispensa maiores comentários.
Não se trata aqui apenas de desmerecer o trabalho de FHC. O presidente constrói muito bem sua candidatura a um posto internacional, quem sabe de secretário-geral da ONU.
Talvez, o maior efeito dessa reunião cucaracha de ontem em Brasília seja mesmo a melhora da imagem internacional de FHC.
Mesmo porque, de prático, só foi criado um "foro consultivo sul-americano". Seja lá o que for tal coisa.


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