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São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2003

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CRÉDITO EXÍGUO

Balanços de instituições financeiras referentes ao primeiro semestre do ano confirmam as distorções provocadas pelas elevadas taxas de juros mantidas pelo Banco Central. Não bastasse a diferença entre a taxa de captação e aquelas cobradas no mercado -os altos "spreads" bancários-, análise da consultoria ABM Consulting, publicada domingo pela Folha, ressalta como esse cenário, em prejuízo da oferta de crédito, tem estimulado a aplicação em títulos públicos.
Ao se examinar as receitas do setor financeiro no primeiro semestre percebe-se que os ganhos dos bancos com investimento em títulos aumentaram em relação ao mesmo período de 2002, praticamente igualando-se àqueles auferidos com a concessão de crédito. Esse desvio não pode ser simplesmente atribuído às instituições bancárias, uma vez que elas reagem às oportunidades oferecidas. Títulos públicos a juros estratosféricos constituem-se, obviamente, numa alternativa confortável e lucrativa.
O encolhimento do crédito é um efeito previsto da política restritiva adotada para dissipar a ameaça inflacionária e a desconfiança em relação ao país presentes no período inicial do governo. Se é inegável que a estratégia atingiu esses objetivos, estando a inflação em recuo e a confiança em alta, o custo do ajuste tem sido extremamente caro, evidenciando os exageros e o excesso de conservadorismo da política praticada pelo BC.
Depois de oficialmente constatado o ambiente recessivo do primeiro semestre, analistas agora convergem para a percepção de que a economia inicia uma reversão do movimento de baixa, criando esperanças de que a trajetória passará a ser, nos próximos meses, de reaquecimento.
Nesse processo de reativação, é imprescindível que os bancos passem a desempenhar seu papel básico de fornecer crédito a taxas compatíveis, decisão que estará condicionada pelos próximos passos a serem dados pelo BC. As condições para reduções mais acentuadas da taxa Selic estão, ao que parece, amadurecidas, e precisam ser melhor aproveitadas.


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