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CARLOS HEITOR CONY
Poluição eleitoral
RIO DE JANEIRO - Ainda bem que não me sinto comprometido pessoalmente com os resultados das eleições
municipais de ontem. Acredito que
fiz o que devia, apelando na crônica
anterior para o voto livre e consciente. O que vai sair das urnas será um
termômetro que medirá o grau de cidadania do povo brasileiro, acusado
repetidas vezes de não saber votar.
Acompanhei por alto as escaramuças eleitorais, não por falta de interesse, mas por cansaço. A mídia
abriu espaço demasiado para as
campanhas. Na preocupação de se
mostrar isenta -como de fato o
foi-, controlava a centimetragem
dos jornais e a minutagem das rádios
e TVs, dando a todos o mesmo espaço.
Durante a campanha, as pesquisas
elegiam o prefeito do dia ou da hora.
As idas e vindas dos candidatos formaram uma gangorra que era impossível de ser acompanhada.
Só uma coisa me irritou nesta campanha. Foi a consideração de que
apenas as eleições em São Paulo, Rio,
Porto Alegre, Fortaleza e Belo Horizonte eram importantes.
Uma distorção perversa, pois coloca
as eleições municipais como caudatárias, simples laboratório para a
eleição federal de 2002. Evidente que
o tabuleiro se armará de forma mais
realista após os resultados de ontem.
Encarar a eleição mais próxima do
cidadão como vestibular para a presidencial é uma forma de desdenhar
uma e inchar a outra.
Houve também excesso de pesquisas, que chegavam a virar manchetes
de jornais, revistas, rádio e TVs. Havia a impressão que, de 24 em 24 horas, havia um vencedor já definido.
As pesquisas diárias servem para
orientar os candidatos, que poderão
alterar a tática de suas campanhas.
Mas para o povo é apenas um escore
provisório, que significa tanto quanto, num jogo de basquete, soltar foguete porque um time está vencendo
por 18 a 16, muito longe do resultado
final, que costuma bater nos 90.
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