São Paulo, quarta-feira, 02 de outubro de 2002

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MODELO EM CRISE

O Banco Central (BC) volta a se mostrar menos ambicioso no combate à inflação. Embora a meta oficial para 2003 continue a ser uma inflação de 4%, devido à alta do dólar o BC já está trabalhando com o objetivo de limitar a inflação a 5%.
A iniciativa não chega a surpreender: a média das projeções de inflação do mercado para 2003 está em 5,5%, meio ponto percentual acima do novo "alvo" do BC. Ressalta, de mais essa flexibilização, que as metas de inflação têm sido alteradas, nos últimos meses, a reboque das circunstâncias. A alta do dólar levou o BC a abrir mão da pretensão de "moldar" as expectativas de inflação do mercado, fazendo-as convergir para a meta oficial. Vem ocorrendo o inverso: o BC reduz sua "ambição" antiinflacionária, aproximando seus objetivos das projeções do mercado.
As metas de inflação são uma peça do modelo de política macroeconômica implantado por FHC. Este modelo se baseou no pressuposto de que o financiamento externo se manteria abundante ao longo do tempo. Por isso colocou, como o elemento central para promover a estabilização e o crescimento, a preservação da credibilidade junto aos financiadores externos. E para tanto um dos fatores seria o cumprimento das metas de inflação (o que não ocorreu em 2001, nem se verificará em 2002).
As metas de inflação foram criadas em seguida à troca do sistema de câmbio semifixo pelo flutuante, em 1999. Essa mudança representou um ajuste nesse modelo, ao torná-lo menos rígido. Mas não significou uma revisão mais profunda. As tensões dos últimos meses deixam patente que não afastou o país dos perigos da vulnerabilidade externa.
Dado o quadro global de elevada incerteza e aversão ao risco, é real a perspectiva de que a oferta de capital para os países emergentes continue restrita por longo tempo. Assim, a articulação de novo modelo de política econômica se impõe.


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