São Paulo, quarta-feira, 02 de outubro de 2002

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A RECONCILIAÇÃO

Quem se recorda dos dias tensos que se sucederam à declaração da moratória da dívida de Minas Gerais com a União, em janeiro de 1999, e de outras diatribes de Itamar Franco contra a política federal pode ter estranhado o gesto de reconciliação entre o governador e o presidente Fernando Henrique Cardoso. Pode ter estranhado, também, que a cerimônia das pazes tenha se realizado no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador mineiro, e não em Brasília, como recomendaria o protocolo.
Alguns argumentam que o grande beneficiado político do reencontro é o próprio Itamar Franco. De fato, o ex-presidente é um fenômeno da política nacional. Foi eleito pelo PMDB, do qual se afastou durante um período, voltando em seguida ao partido do qual novamente se afastou no último ano de seu mandato. Numa manobra astuta, ajudou sobremaneira a esvaziar a candidatura de seu vice-governador, Newton Cardoso, ao governo de Minas.
Itamar Franco decidiu apoiar o candidato tucano, deputado Aécio Neves, que dificilmente deixará de vencer a eleição em primeiro turno e com grande margem de votos sobre seus concorrentes. No plano federal, a estratégia de alianças múltiplas de Itamar Franco optou por Lula, que também lidera as pesquisas e tem chance de sagrar-se presidente no próximo domingo.
Pois está aí o fator que pode tornar a reaproximação entre FHC e Itamar benéfica também para os interesses dos tucanos. Em primeiro lugar, o retorno do bom relacionamento entre União e Minas pode ajudar a evitar um começo de gestão financeiramente difícil para Aécio. Em segundo lugar, como Minas, o segundo colégio eleitoral do país, tornou-se um dos Estados em que Lula tem mais intenções de voto, uma pequena reversão que ali se dê contra o petista pode ajudar a evitar que a eleição se decida já no domingo. E FHC garante, com a reaproximação, mais um ponto em sua imagem de presidente conciliador e agregador, o que faz bem à sua biografia.
Portanto, se Itamar Franco faz política com rara astúcia, os movimentos de FHC também não podem ser tachados de ingênuos.


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