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A RECONCILIAÇÃO
Quem se recorda dos dias tensos que se sucederam à declaração da moratória da dívida de Minas Gerais com a União, em janeiro
de 1999, e de outras diatribes de Itamar Franco contra a política federal
pode ter estranhado o gesto de reconciliação entre o governador e o
presidente Fernando Henrique Cardoso. Pode ter estranhado, também,
que a cerimônia das pazes tenha se
realizado no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador
mineiro, e não em Brasília, como recomendaria o protocolo.
Alguns argumentam que o grande
beneficiado político do reencontro é
o próprio Itamar Franco. De fato, o
ex-presidente é um fenômeno da política nacional. Foi eleito pelo PMDB,
do qual se afastou durante um período, voltando em seguida ao partido
do qual novamente se afastou no último ano de seu mandato. Numa
manobra astuta, ajudou sobremaneira a esvaziar a candidatura de seu
vice-governador, Newton Cardoso,
ao governo de Minas.
Itamar Franco decidiu apoiar o
candidato tucano, deputado Aécio
Neves, que dificilmente deixará de
vencer a eleição em primeiro turno e
com grande margem de votos sobre
seus concorrentes. No plano federal,
a estratégia de alianças múltiplas de
Itamar Franco optou por Lula, que
também lidera as pesquisas e tem
chance de sagrar-se presidente no
próximo domingo.
Pois está aí o fator que pode tornar
a reaproximação entre FHC e Itamar
benéfica também para os interesses
dos tucanos. Em primeiro lugar, o
retorno do bom relacionamento entre União e Minas pode ajudar a evitar um começo de gestão financeiramente difícil para Aécio. Em segundo lugar, como Minas, o segundo
colégio eleitoral do país, tornou-se
um dos Estados em que Lula tem
mais intenções de voto, uma pequena reversão que ali se dê contra o petista pode ajudar a evitar que a eleição
se decida já no domingo. E FHC garante, com a reaproximação, mais
um ponto em sua imagem de presidente conciliador e agregador, o que
faz bem à sua biografia.
Portanto, se Itamar Franco faz política com rara astúcia, os movimentos
de FHC também não podem ser tachados de ingênuos.
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