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Continuar crescendo
Economia brasileira tem boas perspectivas, mas é preciso aumentar investimentos e a eficiência do Estado para que a expansão do PIB prossiga
Não faz mais de quatro anos,
era comum entre economistas a
avaliação de que o potencial de
crescimento da economia brasileira limitava-se, se muito, a 4% ao
ano, num ciclo de curta duração
que recebera o apelido pouco elegante de "voo de galinha".
Neste 2010 em que o PIB deve
crescer 7,5%, o desalento de meados da década soa como um equívoco remoto. O engano agora parece ser o do excesso de confiança,
um empecilho à adoção de providências para reavivar as fontes do
crescimento, que ora se esgotam.
Nos últimos quatro anos, o crescimento do PIB terá sido de 4,7%,
em média. No quarto de século seguinte ao fim do "milagre econômico", em 1980, a economia crescera apenas 2,3% ao ano.
O aumento da renda per capita,
é o maior desde os anos 70. Impulsionado pelo crédito, o consumo
das famílias aumenta a uma velocidade 50% superior à do crescimento do PIB. A distribuição da
renda do trabalho se torna menos
iníqua. Dissemina-se pela sociedade brasileira um sentimento de
bem-estar material.
A dívida pública caiu cerca de
30% desde seu pico, em 2002. A
taxa de juros real equivale a um
terço do que era no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
A dívida externa, que parecia um
problema eterno, desapareceu
por volta de 2006. Inédito na história do Brasil moderno, o país resistiu a uma crise cataclísmica da
economia mundial, em 2008-09.
Numa conjuntura internacional
favorável à economia brasileira, a
demanda e o preço de nossos produtos de exportação dispararam.
Estávamos preparados para isso.
Além de investimentos em pesquisa e tecnologia de agricultura, minérios e petróleo, que datam do regime militar, o Brasil tornou-se
mais produtivo a partir dos anos
1990. Foram fundamentais as mudanças institucionais e regulatórias implementadas pelo governo
de Fernando Henrique Cardoso.
Para que a economia continue a
crescer, é imperioso investir mais,
um aumento progressivo mas importante dos atuais 18% para 25%
do PIB. O nível de consumo das famílias, as despesas com investimento e as despesas de governo já
extrapolam a capacidade da produção nacional. Precisam ser
atendidos pela crescente importação de bens e serviços.
Cresce, com isso, de maneira
preocupante, o deficit externo. Para não reduzir o consumo privado
e incrementar o investimento é indispensável conter o gasto do Estado, que toma cerca de 37% do
PIB e destina apenas 2% a investimentos, como os de ampliação da
infraestrutura.
O excesso de impostos combinado com portos, estradas, aeroportos e ferrovias ineficazes ou insuficientes encarece os produtos
brasileiros e diminui o potencial
de exportação do país. O aumento
das vendas é importante para garantir a importação de bens e serviços modernos que aproximem o
país da fronteira tecnológica da
economia mundial -sem o que
não haverá aumento de produtividade e o potencial de crescimento
se esgotará.
Problema adicional de um Estado grande e descontrolado é a liberdade quase arbitrária que os
governos concedem a suas máquinas arrecadadoras. Uma barafunda de leis, normas e fiscalização
inferniza a vida das empresas. As
firmas brasileiras estão entre as
que mais despendem tempo e dinheiro no pagamento de impostos, além de estarem sujeitas à incerteza jurídico-financeira dos
conflitos surgidos da ação opressiva do fisco. Trata-se de um fator
grave de ineficiência e um empecilho à inovação empresarial.
Nesse quesito, aliás, o Estado
estimula mais a formação de oligopólios e conglomerados tradicionais, por meio de crédito subsidiado, do que promove avanços
na área de alta tecnologia.
Na vida das empresas, o governo está presente demais e de menos, pois o setor privado nacional
ainda parece incapaz de bancar
investimentos de risco e pesquisa
inovadora, como aquelas que um
dia criaram a agricultura tropical e
a prospecção de minérios e petróleo em alto-mar, hoje esteios da
economia do país. É preciso aumentar a eficiência do Estado, que
deve transferir à iniciativa privada
o que faz mal ou não faz, como
construir e gerir portos e estradas.
Tornou-se clichê pregar as reformas da Previdência, tributária
e do trabalho. É preciso repeti-lo,
mas ressaltando que diante de temas tão controversos, a ênfase deveria recair em microrreformas de
baixo custo e grande impacto. Note-se, por exemplo, como mudanças inteligentes na lei de crédito
imobiliário fizeram deslanchar esse setor, há décadas inerte.
É essencial combater a letargia
do conforto propiciado pelo progresso recente. O crescimento não
continuará por inércia.
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