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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Somos todos iguais nessa noite
SÃO PAULO - "Somos todos iguais
nessa noite/ Na frieza de um riso
pintado/ Na certeza de um sonho
acabado/ É o circo de novo". Os que
já andam pela casa dos 40 devem se
lembrar desse sucesso de Ivan Lins,
canção-título de seu disco (que chamávamos LP) lançado em 1977.
Hoje, distante da atmosfera da
época, as alusões veladas à "noite"
da ditadura e as imagens circenses
podem parecer só cafonas. Seria injusto. A música de Ivan Lins funcionaria muito bem como trilha sonora do debate entre os presidenciáveis, anteontem na Rede Globo.
O circo, a frieza pintada, o sonho
acabado, todos iguais sobre o palco... Quando o evento chegou ao
fim, já de madrugada, as pessoas
no estúdio se olhavam, lesadas, como se procurassem algo para dizer.
Não havia nada. O debate foi "inassistível". Um não-acontecimento.
Esse formato de peleja democrática está falido. É menos culpa da
Globo, profissionalíssima no que
faz, e mais das campanhas, que engessam as regras e programam seus
artistas para eliminar do ar qualquer vestígio de política ou de espontaneidade. Os marqueteiros deveriam dispensar os intermediários
e fazer o debate. Seria mais sincero.
"Nós vivemos debaixo do pano",
"onde estão os atores?" -perguntava a canção de Ivan Lins em 77.
De certa forma, no picadeiro eleitoral-televisivo, os atores se nivelaram por baixo -e, se isso for possível, vale dizer que todos perderam.
Dilma Rousseff se comporta como um robô, mas cada vez "mais
solta". É um robô em evolução
-quase fluente, quase humano.
Serra, o mais "preparado", é o
candidato dos conservadores que
se imagina "de esquerda". Talvez
seja só isso: um tecnocrata talentoso, um paulista lutando contra si
mesmo para parecer brasileiro.
E Marina, a candidata "holística", vive a pedir dos outros "visão
estratégica" sobre o país, mas soa,
ela própria, inespecífica ou, às vezes, estratosférica. Não falei de Plínio. Mas também não falei das flores. Ivan Lins já está bom demais.
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