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A GRAXA E A LAMA
Há cerca de seis meses, o ministro
Eliseu Padilha escrevia nesta Folha
que, depois de dois anos à frente da
pasta dos Transportes, podia afirmar
que talvez estivesse "no DNER uma
das marcas da transparência administrativa do governo." Infelizmente,
apesar das tantas sindicâncias abertas para apurar os problemas que ano
após ano, por décadas a fio, mantêm
o DNER no noticiário político-policial, ainda há mais marcas de manchas do que de transparência nesse
órgão da administração federal.
Por obra da investigação da repórter Mônica Bergamo, publicada no
domingo passado por esta Folha,
acaba de transparecer que uma espécie de graxa enodoa aquele departamento federal. No dizer vulgar de um
dos envolvidos no caso, corre "graxa" -dinheiro- nas engrenagens
da liberação de pagamentos de dívidas judiciais do DNER.
Os engraxates no caso são os consultores, por assim dizer, que ajudam
credores a furar a longa fila de quem
tem a receber indenizações, a fila dos
precatórios do DNER. Desde que pague aos tais consultores uma comissão nada módica, por volta de 20%
dos débitos em questão, um credor
que deveria esperar três ou quatro
anos recebe seu dinheiro em algumas semanas. A fim de que a manobra ganhe ares de legalidade, o
DNER ganha também um desconto
na sua dívida. Desse modo, o credor
passa à frente de quem não engraxa o
bolso dos ditos consultores e sabe-se
lá de quem mais.
O diretor financeiro do DNER, homem de confiança do ministro, diz
curiosamente que chancela os fura-filas para não confrontar os procuradores do órgão. Os procuradores dizem que o responsável pela burla é o
tal diretor. Lobistas ou consultores
dizem que na verdade as decisões finais cabem ao ministro. Padilha, por
sua vez, afirma que vai processar os
que o caluniam e o dizem beneficiário de uma caixinha política, além de
anunciar mais uma sindicância. E assim segue a vida no DNER, esse modelo de transparência no governo federal, segundo o ministro Padilha.
Escândalos no DNER são algo tão
previsível como rebeliões na Febem e
fugas de cadeias lotadas; remendos
nessas instituições são igualmente
inúteis. Como dizia o verso de Carlos
Drummond de Andrade, a mão está
suja, é preciso cortá-la.
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