São Paulo, Terça-feira, 02 de Novembro de 1999
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ARREMETIDA AMERICANA

Parecia claro um consenso entre os observadores da economia norte-americana. Ainda que uns poucos continuem a acreditar num desastre, o cenário de "soft landing", de aterrissagem suave, predominava. Na semana passada, dados relativos ao crescimento no terceiro trimestre trouxeram alguma preocupação.
Entre julho e setembro, o PIB dos EUA teve o maior crescimento trimestral do ano, chegando a 4,8%. O impacto imediato desse indicador, no entanto, foi compensado pela notícia de que os custos salariais no mesmo período ficaram abaixo tanto dos registrados no trimestre anterior quanto das projeções do mercado.
A reação imediata, positiva, dos mercados tem lógica, mas não esgota a questão. O fato mais fundamental é a arremetida da maior economia do planeta, movimento que em tese tende a gerar pressões inflacionárias, mais cedo ou mais tarde.
A questão crucial para o Fed, o banco central dos EUA, é saber se é possível esperar mais até que surjam sinais explícitos de inflação e pressões salariais. A instituição, que já se declarou inclinada a elevar os juros, possivelmente será mais sensível, no prognóstico de médio prazo, ao indicador de crescimento revigorado.
Há no entanto quem prefira empunhar a bandeira de um novo otimismo, acreditando que a mudança tecnológica abre fronteiras de crescimento sem pressão inflacionária.
É por exemplo notável que, decompondo o crescimento do terceiro trimestre, tenha ocorrido uma perda de dinamismo nos gastos de consumo, mas com a elevação concomitante dos investimentos em novas fábricas e equipamentos de 7% para 14,9%.
Mas os dados continuam inconclusivos. Em setembro, houve uma queda nas vendas de imóveis de 12,8%, depois de alta expressiva em agosto.
Os indicadores econômicos dos EUA revelam-se acima de tudo instáveis, o que já é em si razão para cautela no resto do mundo, em especial nas regiões mais atrasadas e dependentes, como o Brasil.


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