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Mundo Novo, novo mundo
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - O assassinato da prefeita
Dorcelina Folador é um fato político
nacional. E dá calafrios.
Não só porque era mulher, mãe, deficiente física, prefeita, petista, militante do MST e tentava "mudar as
coisas". Mas principalmente porque
ela combatia o crime organizado -e
ali ao lado do Paraguai.
Não é surpresa para ninguém que há
quadrilhas bilionárias no Acre, no
Maranhão, no Piauí e em praticamente todos os Estados brasileiros. A
grande novidade é que esses antros estão sendo desbaratados, e os bandidos
estão indo parar na cadeia.
Isso só é possível porque gente crédula, honesta e sobretudo valente -como a prefeita Dorcelina- resolveu
enfrentar o touro a unha. O seu assassinato a sangue frio soa como o aviso
macabro de que os touros estão reagindo. Não estão aí para brincadeiras
nem vão se entregar tão fácil.
Esse medo é crônico no Rio e em Alagoas e está agudo no Acre, no Maranhão e no Piauí, onde a faxina tem sido mais eficaz, mais divulgada e mais
comemorada pela imprensa nacional.
Agora, bate em cheio em Mato Grosso
do Sul. Todo cuidado é pouco.
O crime organizado se sustenta num
círculo muito semelhante de norte a
sul: entra despudoradamente na polícia, nomeia aliados em cargos executivos, inventa candidatos a mandatos
legislativos, corrompe setores da imprensa local e se infiltra na própria
Justiça que deveria condená-lo.
Políticos, juízes, promotores, jornalistas e policiais que têm coragem suficiente para entrar pelo outro lado nessa guerra enfrentam, primeiro, o corporativismo e, depois, o risco de vida.
Precisam, portanto, de retaguarda e
proteção. É o mínimo que o Estado e a
sociedade devem a eles. Do contrário,
todo o trabalho terá sido em vão.
Dorcelina era prefeita de Mundo
Novo e trabalhava efetivamente por
um novo mundo. Mas não precisava
ser mártir nem deixar órfãs suas duas
filhinhas, de 4 e 8 anos.
O pânico está instalado, e é federal.
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