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A mão e a boca
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Como sempre, recuso-me a ler entrevistas que ocupam
mais de meia página dos jornais e
mais de cinco minutos na TV. Daí que
não li o mais recente blablablá presidencial, em que pese a admiração que
tenho pelo Carlos Eduardo Lins da Silva, o entrevistador, um dos mestres do
nosso jornalismo.
Passei o domingo me preparando interiormente para comemorar a meu
modo o Dia de Finados, peguei o meu
Vieira e abri a esmo, como sempre faço quando vou aos meus clássicos preferidos. Caiu o sermão da sexagésima
-um dos mais notáveis por sinal. Nada a ver com o dia dos mortos, em si.
Mas lá encontrei o trecho que faria
contraponto à lenga-lenga de FHC
que não tive saco para ler.
Cito de memória, pois tenho preguiça de ir lá na estante apanhar o livro.
Vieira fala das palavras e das ações
com aquele jeito que somente ele tinha. Entre outras coisas, diz que Davi
derrubou Golias com a pedra e a funda -mas nem a pedra nem a funda
foram realmente importantes. Importante foi a mão que movimentou a
funda e deu força à pedra.
Daí, Vieira faz o paralelo entre a boca e a mão, a palavra e a ação. Pula
então do Velho para o Novo Testamento e diz que a melhor parábola da
ação é a do semeador -cuja mão esparrama as sementes que irão frutificar o solo e alimentar o homem.
É isso aí. Sobra boca demais no atual
governo, inclusive e principalmente
em FHC, que é amarrado em falar
qualquer coisa, de forma tão acaciana
que às vezes irrompe no bestialógico.
A mão, que devia semear, lançar sementes de trabalho e bem-estar para a
sociedade, nunca é usada. Serve apenas para assinar atos burocráticos, tirando um funcionário daqui para botar ali, naquilo que os entendidos do
governo chamam de ""redesenho do
Estado".
Deixo FHC pra lá e voltarei ao Vieira.
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