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A mesma conversa
Embate simplista sobre política econômica mal disfarça falta de idéias, planos e quadros para incentivar o crescimento
"A CÚPULA do PSDB,
reunida ontem
em Brasília, decidiu unificar o discurso para tentar impor mudanças na política econômica do governo no segundo mandato de
FHC." Assim uma reportagem
da Folha narrava, em novembro
de 1998, um dos capítulos da novela de especulações que antecedeu o início da segunda gestão de
Fernando Henrique Cardoso.
Então, como agora, o assunto
era com freqüência reduzido à
anteposição alegórica entre "desenvolvimentistas" e "monetaristas". Exatamente como ocorre hoje, o questionamento se baseava num anseio legítimo: abrir
espaço na agenda nacional para
ações de incentivo à expansão do
emprego e da produção.
Há oito anos, o debate se perdeu quando ficou claro que era
um mero pretexto, manipulado
por grupos que se engalfinhavam por nacos do poder -e foi
sepultado no início de 1999,
quando desmoronou a política
do real forte. O modo simplório
como a questão vem sendo tratada, agora, por fatias do governismo lulista indica que a história
tende a se repetir.
O ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) anunciou
com pompa "o fim da era Palocci". Mesmo sem definir o que teria sido a era Palocci, o palavrório gerou celeuma e reação imediata no círculo presidencial.
Lula em pessoa desautorizou o
ex-prefeito de Porto Alegre.
A movimentação de um grupo
petista com o objetivo aparente
de desestabilizar as chances de
permanência, no segundo mandato, da atual chefia do Banco
Central redespertou os fantasmas de sempre no "mercado" e
seus porta-vozes. Passaram imediatamente a tachar de "gastadores" os petistas que empreendiam essa cruzada contra Henrique Meirelles.
Nessa querela, sobra apetite
por poder e faltam idéias, planos
e quadros. Não se deve levar a sério quem, nos bastidores, promete o paraíso da queda dos juros básicos, como se eles pudessem despencar de chofre. Não
podem. Podem cair com maior
ou menor velocidade, a depender das condições objetivas da
economia, de ajustes em parâmetros da política monetária e
do perfil de seus gestores.
Há margem de manobra, mas
ela é muito mais estreita do que
tais prestidigitadores querem fazer crer. Não se trata de guinadas, de inflexões, mas de reacomodações e ajustes finos nos termos vigentes. Não se trata de
afastar da condução da política
pessoas alinhadas a determinada escola de pensamento, mas de
favorecer o arejamento gradual e
negociado de idéias, quadros, regras e procedimentos.
Trata-se, enfim, de um acordo
complexo, cuja operação política
é delicada. A conseqüência inexorável de qualquer manobra
brusca e tosca como a que se ensaiou será a manutenção da política econômica nos exatos termos em que tem sido conduzida.
Essa política, ao reforçar o poder
de compra de milhões de famílias brasileiras, foi um dos motivos da reeleição de Lula. Mas ela
está sufocando a produção e o
emprego num nível que ameaça
as conquistas até aqui obtidas.
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