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CLÓVIS ROSSI
Juros, tensão e espetáculo
SÃO PAULO - O espetáculo do crescimento, prometido para meados deste
ano e adiado para 2004, vai mesmo
começar? No próprio governo Lula,
há duas opiniões a respeito.
Os otimistas, encabeçados pela Fazenda, acreditam que os ingressos
para o show já podem ser vendidos,
porque ele é inevitável. Já os prudentes acham que não é bem assim.
Acreditam que, primeiro, é preciso
continuar a baixar os juros até deixá-los em algo em torno de 7% reais
(descontada a inflação) contra os
mais ou menos 10% de hoje.
Segundo, é preciso adotar de fato
políticas de estímulo a determinados
setores (as tais políticas industriais
anunciadas, mas ainda pendentes de
consultas com o setor privado) e soltar investimentos.
Teme-se, no lado confiante, mas
nem tanto, do governo, que um crescimento baseado apenas no consumo
seja de curta vida. Daí a necessidade
de investimentos, tanto públicos como privados, o que, em algum momento, exigirá pôr em questão a meta de 4,25% de superávit fiscal primário (receitas menos despesas, fora juros), até agora um tabu.
Se todas as pré-condições para o espetáculo do crescimento serão ou não
atendidas é questão em aberto. Mas,
no tema juros, há uma boa razão para apostar que o governo afrouxará o
cinto: o próprio ministro Antonio Palocci, uma espécie de fiador dos juros
altos, admitiu, em discussões internas, que errou no timing da redução
das taxas.
De público, cultiva-se a tese de que
o Banco Central é autônomo para
decidir os juros. Não é bem assim: foi
o próprio presidente da República
quem desconfiou que o timing estava
errado, cobrou de Palocci, que acabou por apertar o BC até começar a
redução, com dois meses, pelo menos,
de atraso, reconhece-se hoje.
A política monetária (juros) foi,
desde o início, objeto de tensões internas no governo, mas, agora, parece
haver uma maioria favorável à continuidade das quedas. Se basta para
abrir o espetáculo do crescimento,
vai-se ver. Mas é, no mínimo, um
obstáculo a menos.
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