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São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Juros, tensão e espetáculo

SÃO PAULO - O espetáculo do crescimento, prometido para meados deste ano e adiado para 2004, vai mesmo começar? No próprio governo Lula, há duas opiniões a respeito.
Os otimistas, encabeçados pela Fazenda, acreditam que os ingressos para o show já podem ser vendidos, porque ele é inevitável. Já os prudentes acham que não é bem assim. Acreditam que, primeiro, é preciso continuar a baixar os juros até deixá-los em algo em torno de 7% reais (descontada a inflação) contra os mais ou menos 10% de hoje.
Segundo, é preciso adotar de fato políticas de estímulo a determinados setores (as tais políticas industriais anunciadas, mas ainda pendentes de consultas com o setor privado) e soltar investimentos.
Teme-se, no lado confiante, mas nem tanto, do governo, que um crescimento baseado apenas no consumo seja de curta vida. Daí a necessidade de investimentos, tanto públicos como privados, o que, em algum momento, exigirá pôr em questão a meta de 4,25% de superávit fiscal primário (receitas menos despesas, fora juros), até agora um tabu.
Se todas as pré-condições para o espetáculo do crescimento serão ou não atendidas é questão em aberto. Mas, no tema juros, há uma boa razão para apostar que o governo afrouxará o cinto: o próprio ministro Antonio Palocci, uma espécie de fiador dos juros altos, admitiu, em discussões internas, que errou no timing da redução das taxas.
De público, cultiva-se a tese de que o Banco Central é autônomo para decidir os juros. Não é bem assim: foi o próprio presidente da República quem desconfiou que o timing estava errado, cobrou de Palocci, que acabou por apertar o BC até começar a redução, com dois meses, pelo menos, de atraso, reconhece-se hoje.
A política monetária (juros) foi, desde o início, objeto de tensões internas no governo, mas, agora, parece haver uma maioria favorável à continuidade das quedas. Se basta para abrir o espetáculo do crescimento, vai-se ver. Mas é, no mínimo, um obstáculo a menos.


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