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![]() São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Juros na mesa de negociação
LUIZ MARINHO
Em face da especulação financeira em que se transformou o Brasil nas últimas décadas, os trabalhadores, com seus salários aviltados, foram levados a um endividamento baseado em juros abusivos. Só para ter idéia, a taxa média mensal de juros no cheque especial neste momento é de cerca de 9% ao mês. Nas financeiras, a taxa alcança 13% ao mês. Isso num país em que a maioria dos trabalhadores nem sequer tem conseguido reajustes anuais nesses patamares. Muitos trabalhadores tornam-se inadimplentes e têm seus nomes "sujos" no mercado de crédito. Desesperados, eles recorrem a agiotas, perdendo ainda mais o controle de seus orçamentos. Por isso, além de um processo inédito de negociação de taxas de juros -pedra angular na estrutura econômica de qualquer país-, a CUT vê essa iniciativa como parte da discussão do próprio poder aquisitivo dos trabalhadores. Após um intenso processo de negociação, conquistamos, por meio de acordo com 19 bancos (posteriormente expandido para 30), taxas de juros que ainda não podem ser consideradas de um país civilizado. Mas, sendo as taxas acordadas menos da metade das vigentes antes do acordo (em alguns casos, chegando a patamares de só 12% das taxas atuais), podem ser consideradas como uma verdadeira conquista da central sindical e dos trabalhadores em geral, sejam eles sindicalizados ou não. Inicialmente a negociação, que contou com a assessoria da Trevisan Consultores e Auditores, do Dieese e da assessoria jurídica da Siqueira Neto Advogados Associados, promoveu uma concorrência entre os bancos. Selecionamos 19 instituições entre mais de meia centena de bancos. A escolha recaiu sobre aquelas que apresentaram as menores taxas de juros. Num segundo momento, submetemos os selecionados a um novo processo concorrencial. Com as instituições escolhidas realizamos novas negociações, que resultaram no acordo. Acreditamos que esses contratos servirão de referência para todos os sindicatos da CUT. Somos quase 3.500 sindicatos em todo o território nacional e representamos, segundo a recente pesquisa sindical do IBGE, cerca de 66% dos sindicatos filiados às centrais sindicais. Assim, esperamos que os acordos contribuam para acelerar a redução das taxas de juros no país. Mais ainda: conforme matérias recentes publicadas pela imprensa, ele também está provocando a redução das taxas nos acordos dos bancos com as outras centrais. Outras centrais sindicais optaram pela cobrança de um percentual para cobrir os custos da intermediação. No caso do acordo da CUT, preferimos trabalhar com o conceito de oferta de um benefício ao sindicalizado, porém sem excluir o não-sindicalizado. Essa concepção foi aceita pelo Ministério Público do Trabalho. Por outro lado, tivemos uma preocupação permanente de não estimular o superendividamento dos trabalhadores. Nossos acordos prevêem campanhas de esclarecimento quanto à importância do equilíbrio orçamentário de cada família. A medida provisória 130, o decreto-lei 4.840 e o acordo da CUT visam, sobretudo, possibilitar aos trabalhadores a reestruturação de suas contas, livrando-os das dívidas com o cheque especial, cartão de crédito e até mesmo de agiotas. Para concluir, é importante lembrar que esse acordo é só um passo a mais no caminho que esperamos percorrer na direção do crescimento econômico, da melhoria das condições de remuneração e trabalho e da geração de empregos. Luiz Marinho, 44, é o presidente nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Bertrand de Orleans e Bragança: Agredidos pela realidade Índice |
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