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Metas para o clima
Brasil fixa compromissos contra o aquecimento global e busca assumir posição de liderança em conferência mundial
A CONFERÊNCIA sobre mudança climática iniciada ontem em Poznan (Polônia) reúne
cerca de 180 nações em torno da
quase impossível tarefa de alinhavar um acordo internacional
para substituir o Protocolo de
Kyoto após 2012, quando expira.
Decisões, se vierem, acontecerão só na fase ministerial da reunião, dias 11 e 12. Permanece o
contexto paralisante da disputa
Norte-Sul que marca a negociação internacional do clima desde
1992, ora agravada pela crise financeira que assola o mundo.
Mas já surgem indicações de que
o impasse pode começar a ser
rompido sob a liderança de poucos países -entre eles o Brasil.
Até o presente o processo estava empacado pela recusa dos
EUA de ratificar Kyoto e, portanto, de comprometer-se com metas de redução de gases do efeito
estufa sem que países em desenvolvimento -China à frente- fizessem o mesmo. Estes exigiam
que todo o ônus recaísse sobre os
países ricos, inclusive o de financiar e transferir tecnologias limpas aos mais pobres. Quanto a
assumir compromissos de redução, isso estava fora de questão.
Assim como no caso da Rodada
Doha sobre liberalização do comércio, o Brasil agora se afasta
um pouco da rota rígida preconizada por parceiros como Índia e
China. No plano nacional de mudança climática apresentado ontem pelo presidente Lula foram
afinal incluídas metas quantitativas para redução de emissões,
coisa que o país antes descartava.
O compromisso anunciado é
cortar em 40% os índices de desmatamento entre 2006 e 2010,
mantendo-o abaixo de 11.700
km2 ao ano. Para efeito de comparação, a média anual de desmate entre 1996 e 2005 foi de
19.500 km2. Como derrubadas
de florestas respondem pela
maior parte das emissões brasileiras, na prática isso equivale a
assumir uma meta verificável.
"A gente já pode dizer, alto e
bom som, que apresentamos (...)
um [plano] melhor do que a China e do que a Índia", discursou
ontem o presidente Lula. Parece
manifesta a intenção de ocupar
uma posição de liderança nas
negociações de Poznan, que preparam o terreno para a derradeira conferência do clima, em Copenhague, dentro de um ano.
O Brasil se perfila, assim, na
companhia do Reino Unido, que
também atua de modo audacioso para reduzir suas emissões e
destacar-se na reunião da Polônia. Os britânicos divulgaram
ontem a proposta de um pioneiro orçamento nacional de carbono para cumprir o objetivo de
cortar 80% dos gases-estufa até
o ano 2050. A novidade está no
plano de reduzir algo entre 34%
e 42% das emissões já em 2020.
Como os EUA de Barack Obama se encaminham para metas
similares, pode-se concluir que
as chances de Poznan e Copenhague redundarem em fracasso
diminuíram um pouco.
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