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IGOR GIELOW
Niyazov e os trópicos
BRASÍLIA - Em 2002, o ditador
do Turcomenistão, Saparmurat Niyazov, perpetrou sua mais famosa
bizarrice: renomeou todo o calendário. Entre outras coisas, o mês de
abril virou Gurbansoltan em homenagem à mãe do déspota, uma medida só revertida depois que Niyazov morreu, em 2006.
Estamos longe disso, mas um pequeno fato ocorrido no fim do ano
dá conta do quão incipiente é o conceito de impessoalidade institucional no Brasil. Na terça passada, Lula
participou da inauguração de um
parque em Recife. O lugar, uma
obra de R$ 29 milhões da prefeitura
petista, visa homenagear retirantes
como o próprio presidente.
Até aí, vá lá. Mas o parque se chama Dona Lindu, nome da mãe de
Lula. Ou seja, um prefeito aliado
torrou milhões para adular o presidente, que aceitou a brincadeira de
bom grado. Parece picuinha, mas
não é: em democracias decentes,
não se faz isso com governantes no
cargo. Não é, para ficar na "novilíngua" dos anos Lula, "republicano".
Esse processo não é novidade no
Brasil, é lógico. A prática sempre esteve aí, tanto do lado do bajulador
quanto do adulado. Mas a falta de
ineditismo, assim como a popularidade de Lula, é desculpa para justificar quaisquer barbarismos, inclusive os talvez inofensivos.
Enfim, tudo só fará piorar: está
prevista para este ano a filmagem
da vida de Lula pelos próceres do
pior do cinemão brasileiro, a família Barreto. É quase comovente ver
a produção jurar que não usará um
centavo de dinheiro público no projeto, para evitar críticas à previsível
elegia da saga lulista. Pode até ser,
mas vamos esperar a lista de "parceiros" do projeto.
Lula é uma espécie de "Padim Ciço" em escala nacional. O efeito
desse personalismo na psique política do país só será aferível quando
Lula deixar a Presidência, espera-se, em 2010. Enquanto isso, resta
torcer para que abril continue se
chamando abril cá nos trópicos.
igielow@folhasp.com.br
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