São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2004

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DEPOIS DO ESCÂNDALO

À primeira vista, pode causar espanto o fato de que praticamente metade dos brasileiros afirme desconhecer as revelações sobre o ex-assessor de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz. A desinformação sobre o caso, declarada por 47% dos entrevistados em pesquisa Datafolha, corresponde, na realidade, a um padrão.
Em levantamentos anteriores tem sido semelhante a fatia dos que afirmam não estar inteirados de temas em evidência no cenário político. Em 2002, por exemplo, apenas 51% diziam saber das denúncias sobre um esquema de propinas na prefeitura de Santo André, após o assassinato do prefeito Celso Daniel.
A explicação para esse fenômeno é a que se poderia imaginar: o grau de informação tende a acompanhar a renda e a escolaridade, sendo também influenciado pela distribuição das populações entre as grandes cidades e o interior. Autoridades contam, portanto, com o auxílio da ignorância para administrar os escândalos e crises que enfrentam.
Isso não basta, porém, para explicar o fato de que a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tenha sido abalada pelo caso Waldomiro Diniz. Ainda que o governo seja mais mal avaliado pelos que conhecem o caso, a percepção quanto ao desempenho pessoal do presidente não mudou: como em outubro de 2003, 60% o consideram ótimo ou bom. Lula permanece, portanto, em situação privilegiada.
Sua conhecida biografia, a identificação que mantém com o chamado "brasileiro médio" e a perseverança demonstrada ao longo da carreira política ajudam a explicar o crédito de confiança. Não é pequena a sua responsabilidade: poderá utilizar esse capital de forma produtiva ou, ao contrário, gerar grandes frustrações.
Poupado do desgaste, o presidente deveria, mesmo assim, estar atento a outros resultados da pesquisa. A maioria julga que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, faria bem em se afastar do cargo, ao menos durante as investigações. E 81% são favoráveis a uma CPI para investigar o caso -proposta, aliás, já defendida por esta Folha.


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