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DEPOIS DO ESCÂNDALO
À primeira vista, pode causar espanto o fato de que praticamente metade dos brasileiros afirme desconhecer as revelações sobre
o ex-assessor de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz. A desinformação sobre o caso,
declarada por 47% dos entrevistados
em pesquisa Datafolha, corresponde, na realidade, a um padrão.
Em levantamentos anteriores tem
sido semelhante a fatia dos que afirmam não estar inteirados de temas
em evidência no cenário político. Em
2002, por exemplo, apenas 51% diziam saber das denúncias sobre um
esquema de propinas na prefeitura
de Santo André, após o assassinato
do prefeito Celso Daniel.
A explicação para esse fenômeno é
a que se poderia imaginar: o grau de
informação tende a acompanhar a
renda e a escolaridade, sendo também influenciado pela distribuição
das populações entre as grandes cidades e o interior. Autoridades contam, portanto, com o auxílio da ignorância para administrar os escândalos e crises que enfrentam.
Isso não basta, porém, para explicar o fato de que a popularidade do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
não tenha sido abalada pelo caso
Waldomiro Diniz. Ainda que o governo seja mais mal avaliado pelos
que conhecem o caso, a percepção
quanto ao desempenho pessoal do
presidente não mudou: como em
outubro de 2003, 60% o consideram
ótimo ou bom. Lula permanece, portanto, em situação privilegiada.
Sua conhecida biografia, a identificação que mantém com o chamado
"brasileiro médio" e a perseverança
demonstrada ao longo da carreira
política ajudam a explicar o crédito
de confiança. Não é pequena a sua
responsabilidade: poderá utilizar esse capital de forma produtiva ou, ao
contrário, gerar grandes frustrações.
Poupado do desgaste, o presidente
deveria, mesmo assim, estar atento a
outros resultados da pesquisa. A
maioria julga que o ministro da Casa
Civil, José Dirceu, faria bem em se
afastar do cargo, ao menos durante
as investigações. E 81% são favoráveis a uma CPI para investigar o caso
-proposta, aliás, já defendida por
esta Folha.
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