São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Abraço de afogados

BRASÍLIA - No início do ano, quando as pesquisas começaram a indicar a recuperação de Lula, mas não ainda o seu crescimento seguro, gradual e nada lento, tucanos e pefelistas desdenhavam os índices positivos do presidente. Argumento: ele subiria no Nordeste e nas faixas C, D e E, mas como compensaria os milhões de votos perdidos no Sudeste, especialmente em São Paulo, com quase 23% dos eleitores do país?
O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, enfatizava os altos índices de rejeição de Lula entre os mais esclarecidos em redutos como São Paulo, Santa Catarina e Paraná e ironizava: "Vai tirar essa diferença de onde?". Poderia acrescentar: "Do Amapá, do Maranhão, de Alagoas?", em referência nada sutil aos pequenos Estados comandados pelos peemedebistas Sarney e Renan Calheiros.
Março chegou e, com ele, a pesquisa Ibope mostrando Lula empatado com o candidato tucano justamente em São Paulo, seja ele o prefeito Serra ou o governador Alckmin. Nas duas simulações, Lula aparece com 32%. Ou seja: não precisa compensar perdas paulistas, simplesmente porque elas estão deixando de existir. Quem tinha abandonado Lula pode estar fazendo o caminho de volta.
Talvez esse tenha sido o mais duro golpe na aliança PSDB-PFL e na sua pretensão de ganhar de Lula, que vem num crescente de exposição e de boas notícias para a população. E, quando são ruins, caso maior do crescimento vexaminoso de 2,3%, esconde-se no dia certo, na hora certa.
Some-se a isso a outra parte da pesquisa, sobre o governo de São Paulo: Quércia perde de Marta e ganha de Mercadante. Para Fleury (PTB), "isso só mostra o enorme vazio que existe, a falta de candidaturas colocadas". Mas o vazio é do PSDB, que só se destaca com Alckmin disputando o Senado com Suplicy.
Tucanos continuam nas nuvens, voando. Nem boas nem más notícias, apenas indecisão, desencontros, provocações, ninguém mais se entende. É assim que se constroem derrotas.

@ - elianec@uol.com.br


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