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NELSON MOTTA
O jogo da vida
RIO DE JANEIRO - No Brasil, joga-se em tudo, loterias, bingos, bichos, cavalos, raspadinhas, a maioria explorada pelo Estado, mas ninguém entende por que os cassinos -que geram mais empregos e impostos do
que essas outras modalidades de tentar ganhar dinheiro sem trabalhar-
continuam proibidos. Por razões morais não pode ser.
Dá até medo tocar nesse assunto.
No Brasil-bandido de hoje, ser a favor da reabertura dos cassinos logo
faz de você um suspeito de estar no
mensalão da jogatina. E quero distância dessa gente.
O pessoal que explora cassinos, em
qualquer lugar do mundo, pela própria natureza de sua atividade -tirar dinheiro dos otários-, está sempre na fronteira da marginalidade e
do crime organizado, mas pelo menos confinados nos cassinos são rigidamente controlados pelas forças da
lei e da ordem. Pagam impostos e assinam carteiras.
Há 50 anos, os cassinos, que empregavam milhares de pessoas e eram os
principais palcos da música brasileira nos anos 40, foram fechados com
uma canetada do presidente Dutra, a
pedido de sua catolicíssima esposa,
dona Santinha, em nome de Deus.
Hoje há milhares de cassinos clandestinos no Brasil, que não pagam
impostos, não assinam carteiras e tiram dinheiro justamente dos que
mais precisam -os pobres e remediados. Ricos que têm dinheiro para
perder no jogo não se metem em cassinos clandestinos, onde são grandes
as chances de serem roubados.
Tem gente que perde as calças, a
dignidade e a vida no jogo, mas esses
não precisam de cassinos legalizados,
são patológicos -a tragédia dos alcoólatras não justifica a proibição da
bebida. A existência de cassinos não
obriga ninguém a jogar, e os argumentos econômicos e sociais são muito mais sólidos do que as preocupações morais no país da jogatina. Já
não somos mais o Brasil de dona
Santinha.
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