São Paulo, domingo, 03 de abril de 2011

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Agora, a China

Viagem de Dilma deve focalizar equilíbrio na relação comercial; investimento, acesso ao mercado chinês e tecnologia estão na pauta

A viagem de Dilma Rousseff à China, entre os dias 11 e 15, pode se tornar um marco nas relações entre os dois países. Após a redefinição da agenda com os EUA, iniciada na visita de Barack Obama, a presidente buscará aproximação similar com o parceiro asiático.
A relação com a China pode ser focalizada a partir de três vetores: é o maior consumidor mundial de grande número de matérias-primas, já se coloca como o maior exportador de manufaturados e caminha para se tornar o mais importante mercado de consumo nos próximos anos. O Brasil recebe o impacto dos dois primeiros fatores, e quase nada do último.
Ainda assim, a China já é o maior parceiro comercial e investidor no Brasil. A corrente de comércio somou US$ 56 bilhões em 2010, com saldo favorável ao lado brasileiro de US$ 5 bilhões. No mesmo período, os investimentos chineses atingiram US$ 19 bilhões, em projetos de petróleo, mineração, siderurgia e energia.
Trata-se de uma relação assimétrica, porém. Do lado comercial, cerca de 90% das exportações brasileiras estão concentradas em apenas quatro produtos (minério de ferro, soja, petróleo e celulose), ao passo que quase toda a importação se compõe de bens manufaturados de alto valor agregado.
No governo Lula houve entusiasmo -um tanto míope- com o superavit propiciado pelas matérias-primas. Nos últimos anos, a China foi incrementando sua pauta de exportações e passou a ameaçar seriamente a indústria nacional. Daí a disposição recente do governo de reforçar mecanismos de defesa comercial.
Do lado dos investimentos, o panorama é parecido: a China não permite acesso livre a seu mercado, como fica claro pela política de impor joint ventures às empresas estrangeiras para investimentos diretos. As limitações enfrentadas pela Embraer dão bom exemplo da doutrina chinesa na matéria.
Ao lado brasileiro interessa receber investimentos, mas é preciso cautela com a predileção de estatais chinesas pelo setor de recursos naturais. O Brasil não deve permitir que governo estrangeiro controle um excesso de ativos em mineração, terras e cadeias de produção agroindustrial. Nesse caso, o que impediria o governo chinês de exportar para si mesmo a preços fora de mercado?
É imperativo aprofundar, mas também equilibrar, as relações com a China. A visita deve servir para explicitar a integração que interessa ao Brasil: reciprocidade nas condições de investimento, acesso ao mercado consumidor e cooperação tecnológica.
Por outro lado, cabe reconhecer que a diminuta exportação de manufaturados pelo Brasil decorre de ineficiência. Nosso país não possui política de Estado para exportações industriais de ponta, mas tem crônicos problemas de custo, tributação e infraestrutura.
Uma grande comitiva de 300 empresários acompanhará a presidente. Espera-se que levem na bagagem uma nova estratégia para participar do mercado de consumo mais promissor do mundo.


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