São Paulo, domingo, 03 de abril de 2011

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O preço do álcool

A escalada nos preços do álcool combustível tem levado o consumidor a optar pela gasolina, mais deletéria do ponto de vista do aquecimento global. Com uma frota que já ultrapassou 12 milhões de carros flex, capazes de funcionar com ambos os produtos, é necessário aprofundar a discussão no Brasil sobre uma política mais abrangente para o setor.
Medidas pontuais, como importar 200 milhões de litros de álcool dos EUA, surtem efeito, mas o governo deve fazer planejamento de longo prazo para evitar variações tão fortes no preço do etanol e reduzir o risco de desabastecimento.
Um dos pontos em que o governo tem maior capacidade de influir é a questão da entressafra. O preço subiu demais, em parte porque os produtores venderam a maior parcela do etanol logo após a colheita da cana-de-açúcar. Se tivessem a capacidade de armazenar e distribuir o combustível de forma mais uniforme ao longo do ano, a variação seria menor.
Uma linha de crédito foi criada com esse objetivo, há dois anos, mas não decolou. De mais de R$ 2 bilhões disponíveis em 2010, apenas cerca de R$ 400 milhões acabaram sendo utilizados. Esse mecanismo precisa ser aperfeiçoado.
O preço controlado da gasolina, ao deixar de acompanhar as variações da cotação do petróleo no mercado internacional, também influencia na distorção. O barril ultrapassou os US$ 100, mas não houve reajuste no Brasil. Com isso, o consumo de gasolina ganhou um incentivo artificial.
Sobre outros fatores, a margem de intervenção é menor. O açúcar atingiu a cotação mais alta em 30 anos, e 80% das usinas brasileiras podem produzir tanto um quanto outro a partir da cana. Com isso, 3 bilhões de litros de etanol deixaram de entrar no mercado. Além do mais, a safra ficou abaixo do esperado nos últimos anos, o que, aliado à crise financeira mundial de 2008, adiou investimentos importantes para o setor.
Segundo o jornal "Valor", o governo estuda mudanças estruturais para o etanol. Alterações no mercado que beneficiem o consumidor, sem prejudicar o produtor, são urgentes. Sem elas, o país arrisca atrasar-se numa área em que sempre esteve na vanguarda.


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