São Paulo, sábado, 3 de maio de 1997.

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VITALIDADE DEMOCRÁTICA

Em 1992 os cidadãos britânicos deram uma maioria de 21 votos ao Partido Conservador. Neste Primeiro de Maio votaram maciçamente nos trabalhistas, conferindo-lhes a mais larga margem que um partido já obteve no último século e meio. Foram 179 votos de vantagem sobre a soma de todos os demais partidos.
O resultado mostra como uma sociedade atenta é capaz de exercer enfaticamente sua vontade e punir -sem margem a dúvidas- os governantes que a frustram. Tony Blair, o novo primeiro-ministro, está entre as lideranças que conduziram os trabalhistas a posições mais próximas do centro do espectro político.
Ainda assim, é impressionante o vigor com que foram derrotados os conservadores. Sua bancada foi praticamente reduzida à metade: de 321 cadeiras passaram a apenas 165. Seis ex-ministros não conseguiram nem sequer manter-se no Parlamento.
Margaret Thatcher também saiu derrotada. Um dos principais expoentes de seu grupo, o ex-secretário da Defesa Michael Portillo, está entre os que não obtiveram a reeleição.
No Brasil, viu-se recentemente ao menos um caso de mudança política comparável, ainda que em sentido inverso. Quatro meses antes das eleições de 94, com uma inflação de 50% ao mês, a oposição era largamente favorita. Com o Plano Real, Fernando Henrique Cardoso, candidato do discutido governo Itamar Franco, venceu no primeiro turno.
Reviravoltas como essas ressaltam a enorme capacidade de renovação das sociedades democráticas e a intensidade de sua resposta a mudanças de conjuntura. Lembram que popularidade ou desprestígio não são atributos pessoais nem eternos.
Não se pode atribuir ao Brasil a mesma vitalidade civil de nações politicamente maduras como o Reino Unido. Porém, mesmo aqui, onde persistem deformações clientelistas e manipulações baseadas no poder econômico, a população mostrou que, em certas circunstâncias, pode reagir rapidamente a fatos novos.

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