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VITALIDADE DEMOCRÁTICA
Em 1992 os cidadãos britânicos deram uma maioria de 21 votos ao Partido Conservador. Neste Primeiro de
Maio votaram maciçamente nos trabalhistas, conferindo-lhes a mais
larga margem que um partido já obteve no último século e meio. Foram
179 votos de vantagem sobre a soma
de todos os demais partidos.
O resultado mostra como uma sociedade atenta é capaz de exercer enfaticamente sua vontade e punir
-sem margem a dúvidas- os governantes que a frustram. Tony Blair,
o novo primeiro-ministro, está entre
as lideranças que conduziram os trabalhistas a posições mais próximas
do centro do espectro político.
Ainda assim, é impressionante o vigor com que foram derrotados os
conservadores. Sua bancada foi praticamente reduzida à metade: de 321
cadeiras passaram a apenas 165. Seis
ex-ministros não conseguiram nem
sequer manter-se no Parlamento.
Margaret Thatcher também saiu
derrotada. Um dos principais expoentes de seu grupo, o ex-secretário
da Defesa Michael Portillo, está entre
os que não obtiveram a reeleição.
No Brasil, viu-se recentemente ao
menos um caso de mudança política
comparável, ainda que em sentido
inverso. Quatro meses antes das eleições de 94, com uma inflação de 50%
ao mês, a oposição era largamente
favorita. Com o Plano Real, Fernando Henrique Cardoso, candidato do
discutido governo Itamar Franco,
venceu no primeiro turno.
Reviravoltas como essas ressaltam
a enorme capacidade de renovação
das sociedades democráticas e a intensidade de sua resposta a mudanças de conjuntura. Lembram que popularidade ou desprestígio não são
atributos pessoais nem eternos.
Não se pode atribuir ao Brasil a
mesma vitalidade civil de nações politicamente maduras como o Reino
Unido. Porém, mesmo aqui, onde
persistem deformações clientelistas
e manipulações baseadas no poder
econômico, a população mostrou
que, em certas circunstâncias, pode
reagir rapidamente a fatos novos.
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