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A nova miss Grã-Bretanha
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - A vitória do trabalhista
Tony Blair nas eleições britânicas de
anteontem não tira a validade do slogan que ele próprio usou na campanha: ``O Reino Unido merece mais''.
Merecia mais do que o governo conservador de John Major e merece mais
do que as platitudes que Blair usou
como arma para fugir dos grandes temas e, assim, ganhar a eleição, apostando apenas na fadiga do eleitorado
com 18 anos de conservadorismo.
Aliás, o eleitorado do mundo todo
merece mais do que lhe tem sido oferecido nas campanhas eleitorais mais
recentes.
Pode ser romantismo fora de época,
mas não consigo me conformar com
campanhas que parecem mais um
concurso de beleza.
Ganha não necessariamente quem
tem o rosto mais bonito ou a plástica
mais exuberante, mas quem cria os
slogans mais inteligentes, os outdoors
mais atraentes ou, o que é pior, quem
consegue fugir dos grandes debates
sem parecer covarde.
Na Grã-Bretanha, a questão central
é ou deveria ser a seguinte: as políticas
ditas neoliberais aumentam ou não a
exclusão social? Ou, então, a sua contraface: é possível fazer políticas sociais que reduzam a exclusão sem, ao
mesmo tempo, desorganizar as contas
públicas?
São questões hoje universais, mas a
Grã-Bretanha seria o local ideal para
oferecer respostas mais consistentes,
posto que o liberalismo teve um reinado longo o suficiente para permitir
uma visão de pelo menos médio prazo
sobre os efeitos de tais políticas.
Perdida a oportunidade, ficou apenas uma lição de pragmatismo político de Tony Blair que as esquerdas brasileiras podem eventualmente utilizar.
Contestando as acusações de que os
trabalhistas abandonaram os pobres
para cativar a classe média e ganhar a
eleição, Blair respondeu:
``Só ampliando nossa mensagem poderemos ganhar as eleições. E só ganhando as eleições poderemos fazer
algo pelos pobres''.
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