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CARLOS HEITOR CONY
Depois do vendaval
BUENOS AIRES - No ano passado, em escala para outro país, passei dois
dias na capital argentina e, por Júpiter!, fiquei penalizado. Não andava
cem metros em qualquer rua e logo
vinha alguém pedir esmola. Não, não
eram mendigos, desses que perambulam por qualquer cidade. Era gente
da classe média, alguns até bem vestidos, que não tinham dinheiro para
o aluguel, para uma emergência de
saúde.
Dali para cá, o noticiário que me
chegava parecia agravar a situação.
As sucessivas crises na política e na
economia pintavam um quadro de
desolação, de tragédia nacional. Cheguei em Buenos Aires no domingo,
dia das eleições presidenciais. Absoluta calma nas ruas.
A apuração foi mais demorada do
que a nossa, mesmo assim, mais eficiente do que aquela que conhecemos, em país tecnologicamente mais
adiantado. Não tenho elementos para analisar o resultado nem para especular sobre o segundo turno que
vem por aí, entre dois políticos tradicionais, um que já foi presidente e
criou problemas de toda ordem, outro que não chega a ser novidade,
pois governa há anos uma das províncias mais importantes do país.
Menem fez mais operações plásticas do que a Dercy Gonçalves. Tem
ainda forte apelo popular. Acredita
que é vítima de calúnias. Pertence ao
espólio peronista, como seu adversário. Qualquer um deles que seja eleito
poderá atrapalhar o processo da recuperação argentina, mas dificilmente irá impedi-la.
Por um motivo simples: a Argentina é bem maior, imensamente
maior, do que os seus políticos, os
seus executivos, os seus financistas.
É bem verdade que, nos últimos 30
ou 40 anos, o país foi apanhado no
contrapé depois do furacão de Perón,
que ainda não foi devidamente sepultado por essas bandas. Mas a terra é rica, é um dos poucos países do
mundo que pode se sustentar por
conta própria, tem petróleo, carne e
trigo, teve Maradona e teve a Orquestra Típica de Francisco Canaro.
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