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São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Depois do vendaval

BUENOS AIRES - No ano passado, em escala para outro país, passei dois dias na capital argentina e, por Júpiter!, fiquei penalizado. Não andava cem metros em qualquer rua e logo vinha alguém pedir esmola. Não, não eram mendigos, desses que perambulam por qualquer cidade. Era gente da classe média, alguns até bem vestidos, que não tinham dinheiro para o aluguel, para uma emergência de saúde.
Dali para cá, o noticiário que me chegava parecia agravar a situação. As sucessivas crises na política e na economia pintavam um quadro de desolação, de tragédia nacional. Cheguei em Buenos Aires no domingo, dia das eleições presidenciais. Absoluta calma nas ruas.
A apuração foi mais demorada do que a nossa, mesmo assim, mais eficiente do que aquela que conhecemos, em país tecnologicamente mais adiantado. Não tenho elementos para analisar o resultado nem para especular sobre o segundo turno que vem por aí, entre dois políticos tradicionais, um que já foi presidente e criou problemas de toda ordem, outro que não chega a ser novidade, pois governa há anos uma das províncias mais importantes do país.
Menem fez mais operações plásticas do que a Dercy Gonçalves. Tem ainda forte apelo popular. Acredita que é vítima de calúnias. Pertence ao espólio peronista, como seu adversário. Qualquer um deles que seja eleito poderá atrapalhar o processo da recuperação argentina, mas dificilmente irá impedi-la.
Por um motivo simples: a Argentina é bem maior, imensamente maior, do que os seus políticos, os seus executivos, os seus financistas.
É bem verdade que, nos últimos 30 ou 40 anos, o país foi apanhado no contrapé depois do furacão de Perón, que ainda não foi devidamente sepultado por essas bandas. Mas a terra é rica, é um dos poucos países do mundo que pode se sustentar por conta própria, tem petróleo, carne e trigo, teve Maradona e teve a Orquestra Típica de Francisco Canaro.



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